Por: Sara Seda
Vivemos uma era marcada pela celebração da liberdade individual. Corpos livres, discursos desinibidos e identidades expostas compõem o cenário contemporâneo, onde a aparência tornou-se uma poderosa ferramenta de comunicação. Nas ruas, nas redes sociais e até nas estampas de camisetas, o corpo é apresentado como símbolo de autonomia, um manifesto visual de que cada um é dono de si. Até aqui, tudo justo.
No entanto, essa liberdade escancarada levanta questões que merecem reflexão. A máxima “o que é bonito é para se mostrar” ganhou força, mas curiosamente, ninguém anda por aí exibindo o cérebro. Talvez porque o intelecto, ao contrário do corpo, não esteja em alta nas vitrines digitais.
Não se trata de condenar a exibição em si. O problema surge quando ela se torna norma, e o pudor, excepção. Questionar esse padrão é, muitas vezes, suficiente para ser rotulado como conservador ou ultrapassado. Mas há uma diferença subtil, e importante, entre expressar-se e exibir-se, entre afirmar identidade e buscar cliques.
A roupa, como qualquer forma de linguagem, comunica. E como toda mensagem, está sujeita a interpretações. Não se trata de impor padrões estéticos ou morais, mas de reconhecer que o que vestimos, ou deixamos de vestir, transmite algo. Ignorar isso é fingir que a aparência não tem impacto, quando, na verdade, ela fala, e muito.
A liberdade de se vestir como quiser não deve ser confundida com a obrigação de se expor. Em tempos em que a modéstia é frequentemente associada à repressão ou à falta de auto-estima, vale lembrar: modéstia não é vergonha. Pode ser, inclusive, um sinal de inteligência emocional, de respeito próprio e de consciência colectiva.
Se a nossa comunicação com o mundo se resume a centímetros de tecido, talvez seja hora de ampliar o vocabulário.