A economia moçambicana enfrenta um desafio estrutural de grande magnitude: a sua elevada dependência do sector primário e das exportações de matérias-primas, que limitam o valor agregado dentro do país. Segundo o Ministro da Planificação e Desenvolvimento, Salim Valá, Moçambique precisa de uma transformação económica profunda, baseada na diversificação e na industrialização, para garantir um crescimento sustentável e inclusivo. Em entrevista, Valá detalhou a estratégia governamental para esse processo, destacando quatro sectores fundamentais: agricultura, indústria transformadora, indústria extractiva e turismo.
O Desafio da Transformação Económica
A estrutura económica de Moçambique continua altamente dependente do sector primário, com grande parte das exportações compostas por recursos naturais brutos, como carvão, gás natural, madeira e produtos agrícolas não processados. Essa realidade exacerba a vulnerabilidade do país a choques externos, pois os preços das commodities variam consoante o mercado global, afectando a estabilidade económica.
“O nosso país ainda é vulnerável a choques, choques externos, crises económicas, crises financeiras, mas também a choques internos”, afirmou o Ministro Salim Valá, sublinhando a necessidade de reduzir essa dependência e fortalecer a resiliência da economia nacional.
A solução proposta pelo Governo assenta na transformação estrutural da economia, promovendo a diversificação produtiva e a industrialização, criando assim um modelo de crescimento mais robusto, sustentável e inclusivo.
Agricultura e Pecuária: A Base do Desenvolvimento Económico
A agricultura desempenha um papel central na economia moçambicana. Segundo Valá, 66% da população vive em áreas rurais, e 70% dessas pessoas estão envolvidas na agricultura ou em actividades correlatas. No entanto, o sector enfrenta desafios como baixa produtividade, acesso limitado a tecnologias modernas e infra-estruturas inadequadas.
“Agricultura em toda a sua cadeia de valor, incluindo a pecuária, os recursos florestais e a pesca, é uma actividade basilar para o desenvolvimento da nossa economia”, destacou o ministro.
A estratégia do governo para a agricultura inclui o aumento da produtividade agrícola, através da introdução de novas tecnologias e melhoria do acesso a insumos agrícolas. Pretende-se também criar cadeias de valor locais, promovendo o processamento e transformação de produtos agrícolas antes da exportação. A redução da insegurança alimentar é outro objectivo fundamental, incentivando a produção nacional de alimentos essenciais.
O ministro também realçou que ganhos de produtividade no sector agrícola terão um efeito multiplicador na economia, reduzindo a pobreza e libertando força de trabalho para a indústria e os serviços.
Indústria Transformadora: Criando Valor Dentro do País
Moçambique exporta grandes quantidades de matérias-primas, mas a transformação local desses produtos ainda é insuficiente. Segundo Valá, este cenário precisa de mudar urgentemente, pois “não temos muitas alternativas, temos que não apenas produzir e exportar produtos primários”. Ele exemplificou a necessidade de processar localmente recursos como madeira, castanha de caju, algodão, alumínio, carvão mineral e gás natural, agregando valor antes da exportação.
A industrialização é vista como o motor para o crescimento sustentável, pois permite criar empregos e aumentar a renda da população, reduzir a dependência das importações produzindo bens de consumo e materiais industrializados no país e aumentar as receitas fiscais, além de atrair investimentos privados.
O governo pretende incentivar a descentralização da indústria, aproximando as unidades fabris das zonas de produção de matérias-primas. Isso reduzirá custos logísticos e dinamizará economias locais.
Além disso, Valá destacou a importância das pequenas e médias empresas (PMEs) no processo de industrialização. “A indústria tem o condão de criar muitos empregos, mas também dinamiza e usa o potencial e a força de trabalho de forma mais assertiva”, disse.
Indústria Extractiva e Energética: Maximizar Benefícios Locais
Moçambique tem vastos recursos minerais e energéticos, como carvão, gás natural, grafite e pedras preciosas. Embora esse sector tenha registado crescimento, a sua contribuição para o desenvolvimento interno ainda é limitada. Muitos projectos continuam a operar como enclaves, sem gerar impacto significativo na economia local.
Para reverter esse quadro, o Governo vai promover um maior envolvimento das empresas moçambicanas na cadeia de valor da indústria extractiva, da promoção do processamento local de recursos naturais, como refinarias de gás e produção de derivados do carvão, e da expansão da capacidade de produção e distribuição de energia, impulsionando a industrialização.
“Temos um segundo eixo fundamental do desenvolvimento: os recursos minerais e energéticos”, disse Valá. O Ministro também mencionou a aposta do Governo em energias renováveis, como hidroeléctrica, solar e eólica, para garantir uma matriz energética sustentável.
Turismo de Alto Valor: Um Motor para a Diversificação
O turismo é identificado como um sector estratégico, com potencial para gerar divisas e atrair investimentos. No entanto, ainda está subaproveitado devido a desafios como falta de infra-estruturas adequadas e promoção internacional limitada.
“Temos um outro eixo que é o turismo. O turismo é vital e nós temos elevado potencial”, afirmou Valá, defendendo que o país deve focar-se no turismo de alto valor para atrair investimentos sustentáveis.
A estratégia do Governo para o turismo inclui o desenvolvimento de resorts de luxo e ecoturismo, explorando o rico património natural do país. Para isso, será fundamental melhorar a acessibilidade e as infra-estruturas turísticas, incluindo estradas e aeroportos, além de realizar campanhas de promoção internacional para posicionar Moçambique como destino turístico de referência.
O turismo pode gerar emprego rapidamente e criar efeitos multiplicadores em diversos sectores, como hotelaria, restauração e artesanato.
O Caminho para um Moçambique mais dinâmico
A transformação económica de Moçambique é um processo urgente e inevitável. Salim Valá esta ciente disso e assume que para garantir um crescimento sustentável e inclusivo, o país precisa de diversificar a economia, reduzindo a dependência do sector primário, investir na industrialização, processando localmente as matérias-primas antes da exportação, maximizar os benefícios da indústria extractiva, garantindo maior participação de empresas moçambicanas, e apostar no turismo como motor de crescimento, atraindo investimentos estratégicos.
A visão do Governo é clara: Moçambique deve caminhar para um modelo económico mais resiliente, sustentável e inclusivo. Para isso, a implementação eficaz dessas estratégias será fundamental, garantindo que os benefícios do crescimento económico sejam amplamente distribuídos.
“Temos que transformar a nossa economia, a estrutura da nossa economia”, concluiu Salim Valá.
Se o País conseguir concretizar essa visão, poderá sair da sua actual dependência de exportações primárias e tornar-se uma economia mais dinâmica, inovadora e competitiva no mercado global.
Fonte: O Económico