Moçambique assinala, neste 7 de Abril, o Dia da Mulher Moçambicana, efeméride que, para além de exaltar o papel sociopolítico e económico da mulher na sociedade, constitui também uma oportunidade para apresentar uma radiografia actual da sua realidade no país.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), há progressos assinaláveis em termos demográficos e de esperança de vida, mas persistem desafios estruturais nos domínios da literacia, da inserção económica e da representatividade feminina em áreas estratégicas como a ciência e a tecnologia.
População feminina em crescimento
De acordo com o INE, a população feminina em Moçambique tem vindo a crescer de forma consistente ao longo das últimas décadas. Em 1980, o país contava com cerca de 6,2 milhões de mulheres. Esse número mais do que duplicou até 2017, atingindo 14,4 milhões, e projecções para 2025 apontam para mais de 17,5 milhões de mulheres moçambicanas.
Educação: predomínio nas áreas sociais
Em 2023, a maioria das mulheres matriculadas no ensino superior concentrava-se em áreas tradicionalmente associadas às Ciências Sociais, Letras e Humanidades, com destaque para Negócios, Administração e Direito (38,1%) e Educação (26%).
Já nos cursos ligados à Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM), a presença feminina revelou-se significativamente inferior: apenas 0,9% das estudantes optaram por Tecnologias de Informação e Comunicação, 2,7% por Ciências Naturais e 6,7% por Engenharia e Produção, segundo os dados oficiais do INE.
Este desequilíbrio revela uma necessidade premente de políticas públicas que incentivem a participação feminina em áreas técnicas e estratégicas desde os níveis mais elementares de ensino.
Esperança de vida: um avanço de duas décadas
O INE indica também que a esperança de vida ao nascer das mulheres moçambicanas aumentou de 44 anos em 1980 para 62 anos em 2017, sendo projectado que atinja 66 anos até 2025. Este progresso reflecte melhorias no acesso à saúde e nas condições de vida, embora persistam desigualdades marcadas entre zonas urbanas e rurais.
Analfabetismo: estagnação preocupante
Embora entre 1997 e 2017 se tenha verificado uma redução da taxa de analfabetismo feminino (de 74,1% para 49,2%), os dados mais recentes do INE revelam que, em 2022, a taxa se manteve nos 49,2%, sem melhorias significativas nos últimos cinco anos. Tal estagnação indica a necessidade de revitalizar os programas de alfabetização, com especial atenção às zonas mais vulneráveis.
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Inserção económica: predominância no sector primário
O retrato económico traçado pelo INE mostra que 82,6% das mulheres activas com 15 ou mais anos estão concentradas nos sectores da Agricultura, Silvicultura e Pesca — sectores tradicionalmente marcados por baixa produtividade e informalidade.
Apenas 8,8% das mulheres exercem funções nos sectores de Comércio e Finanças, e a presença feminina em Indústria Manufactura, Construção, Energia ou TIC é praticamente inexistente.
Este cenário reflecte uma estrutura económica desequilibrada, onde as mulheres continuam a ser maioritariamente absorvidas por actividades de subsistência, com fraca participação em sectores estruturados e formais da economia.
A celebração do Dia da Mulher Moçambicana traz consigo o mérito da homenagem, mas exige também uma reflexão profunda sobre os desafios persistentes. Reforçar a educação, combater o analfabetismo, diversificar a inserção económica e ampliar o acesso das mulheres às áreas tecnológicas são passos fundamentais para uma sociedade mais justa e inclusiva.
Como demonstram os dados do Instituto Nacional de Estatística, o futuro de Moçambique será tanto mais promissor quanto mais forem valorizadas, capacitadas e integradas as suas mulheres.
Fonte: O Económico
