Resumo
Na cidade de Maxixe, decorreu a Peregrinação da Esperança, promovida pela Igreja Católica no âmbito do Jubileu das Famílias, com a presença de autoridades como o governador Francisco Pagula e o Bispo Dom Ernesto Maguengue. O evento, marcado por momentos de oração e reflexão, destacou a importância da família como pilar da sociedade, abordando também preocupações sociais, como os elevados índices de suicídio em Inhambane. O governador alertou para a necessidade de diálogo familiar como forma de enfrentar problemas sociais, enquanto o Bispo realçou a ligação entre famílias fortes e a reconciliação nacional, sublinhando que cuidar da família é essencial para o bem-estar da sociedade moçambicana.
Resumo gerado automaticamente em 15/09/2025 às 15:12
A cidade da Maxixe foi, neste final de semana, palco de uma das mais marcantes manifestações de fé e reflexão dos últimos tempos: a Peregrinação da Esperança, organizada pela Igreja Católica, no âmbito do Jubileu das Famílias. O evento, que reuniu centenas de fiéis, contou com momentos de oração, cânticos e forte simbolismo religioso, mas ganhou também um peso social e político com a presença de autoridades, incluindo o governador da província, Francisco Pagula, e o Bispo de Inhambane, Dom Ernesto Maguengue.
O encontro, marcado por um ambiente de devoção e emoção, teve como fio condutor a celebração da família como pilar da sociedade. Mas, para além do ambiente espiritual, as intervenções revelaram preocupações profundas sobre os desafios sociais que afetam a província. A começar pelo próprio governador, Francisco Pagula, que aproveitou a ocasião para chamar a atenção para um dos maiores dramas que atingem Inhambane: os elevados índices de suicídio.
“Quando temos uma família com fome, significa que temos uma sociedade doente. Quando temos famílias sem paz, temos também uma sociedade sem paz”, afirmou o governante, realçando que o diálogo dentro dos lares deve ser visto como uma arma fundamental para enfrentar problemas sociais que vão desde o mau atendimento nos serviços públicos até ao flagelo do suicídio, que todos os anos tira a vida, em média, a 80 pessoas na província. “Nos últimos dez anos, perdemos cerca de 800 irmãos em Inhambane por suicídio. É um dado que deve preocupar-nos profundamente e que deve levar cada família a refletir sobre o seu papel no cuidado e na prevenção”, acrescentou Pagula, num discurso carregado de apelo à consciência coletiva.
O governador sublinhou ainda que, para além da ação governamental, a resolução dos problemas sociais só será possível com a participação das famílias. “Estes servidores que muitas vezes falham no seu trabalho, nos hospitais, nas escolas, nas instituições públicas, fazem parte de famílias. Por isso, acreditamos que é nas famílias que deve começar a mudança”, reforçou, convidando os presentes a fazer da oração e do diálogo familiar instrumentos para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
Já o Bispo de Inhambane, Dom Ernesto Maguengue, deu à celebração uma dimensão ainda mais simbólica, ao vincar a ligação direta entre o fortalecimento das famílias e a reconciliação nacional. Para o prelado, não haverá paz nem progresso em Moçambique enquanto os lares permanecerem fragilizados. “A vida de cada homem e de cada mulher começa na família e termina acompanhada pela família. Cuidar da família é cuidar da sociedade, é cuidar do país, é cuidar do futuro. Não haverá reconciliação nacional se faltar reconciliação no seio da família”, afirmou perante uma multidão atenta e emocionada.
Dom Ernesto destacou que o Jubileu das Famílias deve ser visto não apenas como uma data religiosa, mas como uma oportunidade para mobilizar toda a sociedade a valorizar o papel central da família. “Muitas vezes damos prioridade à economia, ao trabalho, mas esquecemo-nos do essencial. Não haverá desenvolvimento económico, não haverá futuro, se faltar o cuidado do amor na família. Marido e mulher precisam de cuidar um do outro, precisam de cuidar dos filhos. Só assim poderemos ter famílias de paz e, consequentemente, uma sociedade reconciliada e harmoniosa”, frisou o líder religioso, numa fala marcada por emoção e forte carga pastoral.
O Bispo não deixou de relacionar os altos índices de suicídio na província à fragilidade dos lares. “Quando temos, em dez anos, cerca de 800 pessoas a perderem a vida por suicídio, isso é um sinal de que falta cuidado nas famílias. Falta o cuidado das emoções, dos pensamentos, do corpo e da alma. É nas famílias que devemos encontrar esse cuidado e esse amor”, afirmou.
A peregrinação, que percorreu algumas artérias da cidade, foi marcada por cânticos e rezas dedicadas às famílias moçambicanas. Os fiéis, vestidos de branco e com símbolos alusivos à esperança, pediam por lares mais unidos, mais dialogantes e capazes de enfrentar as dificuldades da vida. Ao longo do percurso, as mensagens repetiam-se: “A família é o coração da sociedade”, “Sem família não há reconciliação”, “Família forte, sociedade forte”.
Na sua intervenção final, Dom Ernesto convidou os fiéis a voltarem para casa como instrumentos de renovação. “Abram os braços, abram os corações, olhem para o céu e recebam a força do alto. Renovem o amor, renovem a esperança e levem essa renovação para dentro dos vossos lares. Só assim construiremos uma sociedade reconciliada e em paz”, apelou o Bispo, sob aplausos da multidão.
A Peregrinação da Esperança, que este ano se centrou na família, tem-se tornado um marco anual em Inhambane. Mais do que um ato de fé, é hoje um espaço de encontro entre a Igreja, as autoridades e a comunidade, onde se cruzam preocupações espirituais e sociais. Este ano, o evento deixou claro que a luta contra o suicídio e a construção da reconciliação nacional passam, inevitavelmente, pelo fortalecimento dos lares.
No final, o governador Francisco Pagula reforçou a mensagem de unidade e deixou um apelo: “Queremos famílias tranquilas, porque famílias tranquilas significam uma sociedade tranquila. Queremos famílias em paz, porque isso significa uma sociedade em paz. E queremos famílias dialogantes, porque é no diálogo que nasce a solução para os maiores desafios que enfrentamos”.
Com discursos convergentes e uma mensagem comum, a Igreja e o Governo em Inhambane mostraram que, mais do que nunca, é preciso recentrar as atenções na família como alicerce de toda a sociedade. O desafio agora é transformar estas palavras em ações concretas, capazes de reduzir os números alarmantes de suicídio e abrir caminho para uma reconciliação nacional tão desejada, mas ainda por alcançar.
Fonte: O País