Resumo
Milhares de crianças em Moçambique continuam a estudar ao ar livre, sem carteiras nem salas de aula, especialmente durante a época chuvosa, o que interrompe o direito à educação. Mais de sete mil turmas funcionam desta forma em várias províncias, evidenciando um problema persistente. Em áreas rurais, as condições são precárias, com alunos sentados no chão e aulas suspensas devido à chuva. Enquanto nas capitais provinciais as escolas são reabilitadas e recebem carteiras novas, noutras regiões a situação mantém-se inalterada. Apesar da resposta rápida do Estado após o ciclone Idai, escolas sem infraestruturas adequadas continuam sem melhorias, levantando questões sobre a distribuição de recursos e as prioridades na educação. A falta de condições dignas não é apenas logística, mas um obstáculo direto ao ensino no país, exigindo soluções estruturais e investimentos contínuos.
Resumo gerado automaticamente em 15/09/2025 às 15:38
Por: Gentil ABEL
Milhares de crianças em Moçambique continuam a estudar debaixo das árvores, sem carteiras nem salas de aula. Um cenário que se agrava durante a época chuvosa, pois quando as turmas ficam impedidas de funcionar e o direito à educação é interrompido. Estima-se que actualmente existam mais de sete mil turmas a leccionar ao ar livre em diferentes províncias do país, revelando a dimensão de um problema que se arrasta há décadas.
E em muitas localidades rurais, o ensino decorre em condições precárias, com quadros improvisados e alunos sentados no chão. Quando chove, o piso encharcado e a lama tornam impossível a realização das aulas, o que significa semanas ou até meses sem actividades escolares regulares. O contraste é notório em relação às capitais provinciais, onde as escolas recebem, de forma periódica, carteiras novas e são alvo de reabilitações.
Neste âmbito, a Escola Primária Completa de Mudgimacanha, em Nampaco, província de Nampula, é um dos exemplos marcantes, pois cerca de 41 turmas funcionam ao ar livre, partilhando o mesmo espaço com a Escola Secundária local. Casos semelhantes ocorrem em Cabo Delgado, Sofala e Inhambane, revelando que a situação não está circunscrita a uma única região.
Em situações de emergência, a resposta do Estado tem sido mais célere. Foi o que aconteceu após o ciclone Idai, em 2019, quando várias escolas destruídas no centro do país foram reabilitadas em menos de três anos e receberam novas carteiras. Contudo, escolas que nunca tiveram infra-estruturas adequadas continuam sem melhorias, levantando dúvidas sobre os critérios de distribuição de recursos e sobre as prioridades do sector da educação.
Recorda-se que em 2024, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano entregou 160 viaturas às direcções distritais e institutos de formação de professores, justificando a medida como essencial para reforçar a supervisão pedagógica, e as mesmas viaturas foram vistas em campanhas eleitoras. A iniciativa, entretanto, suscitou questionamentos públicos, uma vez que milhares de alunos permanecem sem acesso a carteiras e a salas de aula.
Desta feita, a falta de condições dignas não é apenas um desafio logístico, mas um entrave directo ao processo de ensino e aprendizagem no país. Pois, o problema exige soluções estruturais, incluindo a construção de infra-estruturas resilientes às intempéries, uma distribuição mais equitativa dos recursos entre zonas urbanas e rurais e investimentos contínuos em carteiras e materiais básicos.