Resumo
A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, expressa preocupação com os ataques crescentes a aldeias no norte de Moçambique, levando a uma rápida deterioração do conflito para áreas antes seguras. Cerca de 100 mil pessoas foram obrigadas a fugir nas últimas duas semanas devido a grupos armados que invadem aldeias, incendeiam casas e atacam civis, forçando famílias a escapar sem nada. A falta de apoio adequado coloca em risco especialmente mulheres, meninas, idosos e pessoas com deficiência, que enfrentam dificuldades em abrigos comunitários. Isadora Zoni, oficial de comunicação do Acnur em Moçambique, destaca a situação desesperada de mães fugindo com os filhos à noite. A assistência humanitária é insuficiente para lidar com a escala das necessidades de proteção e assistência no terreno.
Quase 100 mil pessoas foram forçadas a fugir nas últimas duas semanas, segundo uma atualizaçao publicada nesta segunda-feira.
Grupos armados
Pessoas que conseguiram chegar em segurança contaram que fugiram com medo, enquanto grupos armados invadiam suas aldeias, muitas vezes à noite. Eles incendiaram casas, atacando civis e forçando famílias a fugir sem nada.
À medida que as necessidades aumentam, os esforços coletivos, dos agentes humanitários e governamentais, continuam insuficientes para atender à escala de proteção e assistência necessária no terreno.
Muitos descreveram um cenário caótico de fuga, com pais perdendo seus filhos de vista e parentes idosos ficando para trás em meio ao pânico.
Para uma boa parte deles, esta é a segunda ou terceira vez que são deslocados somente este ano, com os ataques a alcançar novas áreas.
Insegurança
Muitos deixam suas áreas de origem sem qualquer documento civil e nem acesso a serviços essenciais, caminhando durante dias em extremo medo. A falta de rotas seguras e de apoio básico deixa as famílias, especialmente mulheres e meninas, em maior risco de exploração e abuso.
Elas são as maiores vítimas da falta de iluminação e privacidade nesses abrigos comunitários, que já enfrentaram jornadas perigosas em busca de segurança.
Os ataques expões o grupo a novos riscos de violência sexual e de gênero, enquanto idosos e pessoas com deficiência enfrentam dificuldades em locais que não são acessíveis ou equipados para atender suas necessidades.
Apoio humanitário
Isadora Zoni é oficial de comunicação do Acnur em Moçambique. Ela cita alguns dos momentos tristes.
“São mães que fugiram à noite com os filhos no colo. Eu mesma conheci uma senhora chamada Filomena e teve um bebé e ela fugiu algumas horas depois desse bebé ter nascido ainda com dores de parte. Então, essa realidade e realmente muito complexa e muito triste. Pessoas com deficiência algumas delas são deixadas para trás, crianças desacompanhadas. Arealidade que nós percebemos, inclusive nesses centros de acolhimento, é de uma maioria de crianças."
Para a oficial de comunicação do Acnur em Moçambique, o apoio é urgente.
Apoio urgente
“Para 2026, o Acnur vai precisar de US$ 38,2 milhões. Essa é a estimativa com base nas necessidades de proteção que são observadas no terreno. E essas necessidades elas aumentam agora num momento bastante sensível uma vez que em 2025 nós recebemos apenas 50% daquele que foi o orçamento para responder as necessidades no norte de Moçambique. Então e bastante preocupante o cenário.”
Em parceria com as autoridades locais foram criados postos de atendimento para oferecer aconselhamento e apoio em saúde mental, distribuir kits de dignidade e dispositivos de mobilidade para pessoas com deficiência e auxiliar as famílias na substituição de documentos civis perdidos.
Os atos de violência, que começaram na província de Cabo Delgado em 2017, já deslocaram mais de 1,3 milhão de pessoas.
Em 2025, os ataques se espalham para além da área habitual atingindo a província de Nampula e ameaçando comunidades que antes acolhiam famílias deslocadas.
*Ouri Pota é o correspondente da ONU News em Moçambique.
Fonte: ONU






