Por: Gentil Abel Gentil Carneiro
Em Maputo, a convivência entre peões e automobilistas nas vias públicas tornou-se um desafio diário, especialmente nas passadeiras. O que deveria ser um espaço de segurança para quem se desloca a pé muitas vezes se transforma em palco de tensão, desrespeito e até acidentes. Esta situação revela não só a falta de civismo de alguns automobilistas, mas também a ausência de uma cultura de mobilidade urbana baseada no respeito mútuo.
Segundo o Código da Estrada, os peões têm prioridade nas passadeiras. No entanto, na prática, muitos automobilistas ignoram esse direito. Em avenidas movimentadas como a Avenida Julius Nyerere, Avenida Eduardo Mondlane, Avenida 24 de Julho e Avenida Guerra Popular, o desrespeito pelas passadeiras é recorrente. Os motoristas raramente param, mesmo quando os peões já iniciaram a travessia, obrigando-os a correr entre os carros ou a esperar longos minutos por uma pausa no fluxo, muitas vezes arriscando a própria vida.
Por outro lado, é também importante reconhecer que alguns peões não cumprem o seu papel de forma responsável. Muitos atravessam distraídos, ao telefone, fora da passadeira ou correm de forma imprevisível, contribuindo para o caos urbano. A travessia apressada, mesmo na passadeira, reflete o medo e a incerteza, não por imprudência, mas como reação instintiva à insegurança.
A cidade de Maputo, com o seu crescente fluxo populacional e viário, precisa urgentemente de uma reeducação no trânsito.
A coexistência pacífica entre peões e automobilistas não será alcançada apenas com multas, mas com campanhas de sensibilização contínuas, reforço policial e, sobretudo, um compromisso coletivo com a vida.
Em última análise, atravessar a rua não devia ser um ato de coragem, mas de rotina segura. E
o respeito nas passadeiras é um reflexo direto do respeito pela vida humana. Enquanto isso não for uma prioridade nas avenidas de Maputo, continuaremos a ver disputas injustas entre carros e pessoas, onde o mais forte quase sempre vence e nem sempre com razão.