O primeiro ano de André Villas-Boas é quase zero

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Apresentação de Martín Anselmi no FC Porto (Lusa/Fernando Veludo)

André Villas-Boas foi eleito há um ano. Sendo certo que muita coisa cabe em 365 dias, impressiona, nesta altura, a descomunal discrepância entre as expetativas criadas no ato eleitoral (traduzidas, de resto, no resultado apurado nas urnas) e a realidade atual do Futebol Clube do Porto. Aí, seguramente, não passou um ano; voaram anos-luz.

Esse terá sido o grande erro do novo presidente do Futebol Clube do Porto: a gestão de expetativas. Foi prometida aos adeptos uma equipa capaz de lutar por títulos – a par do rigor na gestão financeira.

André Villas-Boas apresentou um projeto, uma equipa, um rumo. Tinha ideias claras, prioridades bem definidas e não tardou a colocar tudo isso em prática. O problema é que pouco ou nada deu certo. Pelo menos, até agora.

É verdade que, no futebol, muita coisa depende da bola que entra ou que vai ao poste. Mas, neste caso, demasiadas «bolas» têm saído ao lado. E o esforço para melhorar os resultados financeiros – fundamental – não consegue sublimar a frustração do adepto perante a gritante falta de resultados desportivos.

Vítor Bruno era uma aposta tanto de continuidade (porque já conhecia a casa e os jogadores) como de rutura (porque obrigava a uma separação do seu até então chefe de equipa, Sérgio Conceição – no que foi interpretado por muitos como uma «traição»). Nunca seria, contudo, uma escolha pacífica. Era um risco que obrigaria a uma defesa firme por parte da administração assim que algo corresse mal.

Falhar a liderança da Liga no final do ano com a derrota na Madeira – e depois ser batido pelo Sporting nas meias-finais da Taça da Liga – esgotou a margem de tolerância; a derrota em Barcelos fez transbordar o copo. Villas-Boas cedeu ao descontentamento dos adeptos – ou ficou, ele próprio, sem paciência para mais.

A escolha do sucessor de Vítor Bruno, no entanto, surpreendeu mais do que a saída do primeiro. Apostar em Anselmi foi um risco maior – e mais caro – do que lançar um ex-adjunto-homem-da-casa-sem-experiência-de-treinador-principal. Motivou, desde logo, uma queixa à FIFA por parte do Cruz Azul (que pede cinco milhões de dólares) e não entusiasmou os adeptos. Entrou sem margem de erro. E tem errado bastante.

Ao fim de quatro meses, não há – nunca houve – «estado de graça». Poucos adeptos portistas acreditarão que Anselmi possa vir a revelar-se um treinador de excelência. Pelo menos, no Dragão.

Ao fim de sete vitórias e quatro derrotas em quinze jogos, esgotou a fase de lua de mel com a rapidez de um fósforo ao vento e parece mais perto de um divórcio iminente do que de uma relação duradoira.

O bom treinador tira o melhor proveito possível dos jogadores que tem; explora as suas melhores características; fá-lo com um pragmatismo capaz de entender que é difícil colocar um cozinheiro da messe militar a ganhar uma estrela Michelin. Por muito que se goste de pratos gourmet.

Anselmi já disse que não tem de se adaptar à realidade dos dragões – «se fosse para me adaptar, porque me iriam buscar?», chegou mesmo a questionar. Se estiver bem escudado pela direção portista, se tiver a garantia de que terá tempo (e dinheiro) para encontrar jogadores que se adequam às suas ideias, pode vir a ter sucesso? Tudo é possível. Difícil é imaginar uma «nação» portista com paciência para vários jogos semelhantes à paupérrima exibição na Amadora. Com casos disciplinares no plantel pelo meio.

O treinador não manda sozinho; está integrado numa estrutura. O que foi anunciado como uma grande mudança e evolução. Por estes dias, de maus desempenhos em campo e maus comportamentos fora dele, questiona-se o trabalho de Andoni Zubizarreta e de Jorge Costa. Questiona-se. O que significa que se pedem respostas.

André Villas-Boas mostrou ambição e deixou bem claro que o Futebol Clube do Porto teria de ser competitivo. Começou praticamente o seu mandato com uma vitória da Supertaça, naquele jogo atípico com o Sporting (ainda) de Ruben Amorim.

Vendo bem, a esta distância, se calhar essa conquista fez mal ao clube. Tirou realismo e criou a ilusão de que, sim, era possível competir com os rivais de Lisboa. Manifestamente não é.

Nota: a equipa feminina do Futebol Clube do Porto assegurou este domingo a subida de divisão. O primeiro degrau num caminho feito desde o zero. Mas aí, no feminino, a paciência dura muito mais tempo.

Fonte: Mais Futebol

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