Óculos com Sensores: Uma Solução Moçambicana para a Mobilidade de Pessoas Cegas

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Por: Alfredo Júnior

João Rêgo Júnior, é um jovem moçambicano apaixonado por robótica. Foi essa paixão, aliada a um episódio marcante, que o levou a criar o Vision Hope, óculos inteligentes pensados para apoiar pessoas com deficiência visual a moverem-se com mais autonomia e segurança.

A ideia nasceu depois de ver uma reportagem sobre uma senhora cega que caiu num buraco em Maputo. “Mesmo quem vê bem corre riscos nas nossas ruas. Imagine quem não vê”, recorda. Com anos de experiência na área da robótica, João decidiu pôr mãos à obra e transformar um problema real numa solução prática.

O projecto ganhou forma com um nome que reflete bem a sua essência: Vision Hope, ou seja, “visão de esperança”. Para além da funcionalidade, João quis dar um toque moçambicano ao design, revestindo os primeiros protótipos com capulana. “Não é o material mais prático para uso diário, mas queria valorizar a nossa cultura. Na versão final, mantemos a estética, mas com um revestimento mais resistente.”

Em 2022, o Vision Hope venceu o Prémio Jovem Criativo. Mas após esse reconhecimento, pouco se falou do projecto. “O prémio foi um impulso, mas faltou continuidade. Há muitos jovens com ideias boas que precisam de apoio para ir mais longe.”

Sem parcerias formais nem apoios consistentes, João avançou sozinho, usando os poucos recursos que tinha. Só recentemente, com uma reportagem da DW África, o Vision Hope voltou a ganhar visibilidade, desta vez, com mais atenção de fora do que dentro do país. “É triste quando algo feito cá só ganha valor lá fora. O reconhecimento devia começar em casa.”

A versão mais recente dos óculos foi construída numa semana intensa, marcada por noites sem dormir e muito improviso. “São dez sensores, cada um com vários fios. Foi preciso paciência e muita dedicação, mas o resultado valeu a pena.”

Mais do que detectar obstáculos, João quer que o Vision Hope evolua. “Já estamos a trabalhar numa versão voltada para a educação, que permita, por exemplo, que pessoas cegas possam aceder a livros e conteúdos escolares.”

Para os jovens com ideias guardadas na gaveta, João deixa uma mensagem simples e direta:

Tentem. Mesmo com pouco, façam algo. Um protótipo fala mais alto do que uma ideia. Mostra que é possível e aí, as portas começam a abrir.”

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