Questões-Chave:
• Oito países da OPEP+, liderados pela Arábia Saudita, decidiram aumentar a produção em 137 mil barris por dia a partir de Novembro, igualando o incremento anunciado para Outubro;
• O objectivo é recuperar quota de mercado perdida para os produtores dos Estados Unidos, Brasil e Guiana, que têm expandido rapidamente a sua produção offshore;
• A decisão é considerada prudente e estratégica, evitando uma inundação de petróleo que possa desestabilizar os preços globais;
• O aumento ocorre num momento de queda de 13% nos preços do Brent e do WTI desde o início do ano, em meio à desaceleração económica e tensões políticas;
• A OPEP+ procura manter o preço do barril entre 65 e 70 dólares, faixa considerada o novo “piso técnico” de estabilidade energética.
A OPEP+ anunciou um novo aumento moderado da produção petrolífera, com oito países — liderados pela Arábia Saudita — a comprometerem-se a adicionar 137 mil barris diários a partir de Novembro, numa tentativa de recuperar parte da quota de mercado perdida para os produtores norte-americanos, brasileiros e guianenses. A decisão, noticiada pelo Wall Street Journal, procura equilibrar a necessidade de receitas fiscais com a preservação da estabilidade dos preços internacionais.
O aumento foi aprovado após uma reunião virtual dos ministros da OPEP+ realizada no domingo, em que o grupo optou por uma abordagem gradual e contida, depois de meses de ajustamentos cautelosos na oferta.
De acordo com o Wall Street Journal, a medida segue o mesmo incremento aplicado em Outubro e insere-se num plano mais amplo de reversão das restrições de produção iniciadas em 2023, quando o cartel reduziu o fornecimento em 1,65 milhões de barris por dia para estabilizar o mercado durante a desaceleração económica global.
O Brent Crude e o West Texas Intermediate (WTI) caíram mais de 13% desde Janeiro, pressionados pela fragilidade da procura, pela desaceleração industrial na China e pela recuperação do xisto nos Estados Unidos.
“A OPEP está a avançar com cautela, consciente de que qualquer passo mal calibrado pode desencadear nova pressão sobre os preços”, afirmou Jorge León, analista sénior da Rystad Energy, citado pelo jornal.
A decisão, explicou o analista, traduz o esforço de manter preços próximos dos 70 dólares — valor considerado suficiente para equilibrar as finanças públicas dos principais produtores sem estimular a concorrência excessiva dos projectos de xisto ou offshore.
Equilíbrio Frágil e Contexto Geopolítico:
O novo aumento de produção surge num momento em que o cartel enfrenta forte concorrência externa. Os Estados Unidos, impulsionados pelo sector do xisto, consolidaram-se como o maior produtor mundial, enquanto o Brasil e a Guiana continuam a expandir os seus projectos de exploração offshore no Atlântico Sul.
Segundo o Wall Street Journal, o cartel “quer recuperar terreno” perdido para estas novas potências energéticas, mas sem repetir erros de ciclos anteriores, quando cortes ou aumentos bruscos desestabilizaram os mercados.
O equilíbrio é particularmente delicado, considerando que vários países da OPEP+ dependem fortemente das receitas do petróleo para financiar os seus orçamentos nacionais. Para a Arábia Saudita, manter o preço acima de 65 dólares é essencial para sustentar as despesas do ambicioso programa económico Vision 2030.
“O verdadeiro teste será quando a política e os fundamentos se cruzarem novamente”, advertiu León, sublinhando que as tensões no Médio Oriente e a guerra na Ucrânia continuam a condicionar a confiança do mercado.
Mercado Global e Reacção dos Analistas
Os analistas do JPMorgan estimam que o mercado de petróleo terminará o ano com um excedente de dois milhões de barris por dia, tendência que deverá prolongar-se até 2026.
A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que o crescimento da oferta global ultrapasse 2,7 milhões de barris diários em 2025, superando a expansão da procura.
Ainda assim, o cartel mantém uma estratégia de ajustamentos graduais, preferindo “acompanhar a maré” do que provocar uma nova guerra de preços.
“É uma jogada cirúrgica — suficiente para recuperar relevância sem desestabilizar o mercado”, escreveu a equipa de energia do JPMorgan, numa nota a investidores.
O Brent tem-se mantido entre 65 e 70 dólares por barril nas últimas semanas, demonstrando relativa estabilidade, apesar da volatilidade cambial e das incertezas políticas.
A decisão da OPEP+ é mais do que um movimento técnico — é um sinal político e estratégico.
O cartel procura afirmar que continua a ser o “termómetro global da energia”, capaz de ajustar a produção com precisão cirúrgica mesmo num contexto de fragmentação do mercado e de pressões geopolíticas crescentes.
Se o aumento controlado resultar, a OPEP+ poderá reconquistar parte da sua influência e estabilizar as receitas sem provocar um choque de preços.
Contudo, se a procura continuar débil e a produção alternativa mantiver o ritmo actual, o cartel poderá enfrentar um novo dilema entre estabilidade e sobrevivência.
“A OPEP+ já não dita o mercado — tenta agora acompanhá-lo com prudência e estratégia”, resume o Wall Street Journal.
Fonte: O Económico