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Papel Global do Dólar Sob Pressão Face à Reavaliação de Portfólios e Política Externa dos EUA

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O estatuto do dólar enquanto principal moeda de reserva global poderá estar a ser corroído por uma combinação de factores geopolíticos, económicos e tecnológicos. Num encontro recente do OMFIF, especialistas internacionais alertaram que a confiança dos investidores nos activos norte-americanos está a deteriorar-se, e que o mundo pode estar a assistir a um realinhamento monetário gradual, mas potencialmente repentino.

Reunidos em 8 de Maio sob a nova liderança de Norman Lamont, antigo Chanceler britânico, os membros do conselho consultivo do OMFIF – Official Monetary and Financial Institutions Forum expressaram preocupações crescentes sobre a sustentabilidade do domínio do dólar norte-americano no sistema financeiro global.

As inquietações surgem num momento em que a Administração Trump tem intensificado políticas económicas e diplomáticas consideradas erráticas. Participantes citaram o uso abusivo de sanções, ataques verbais a aliados históricos como Canadá e Dinamarca, e contradições na política cambial dos EUA como factores que minam a percepção do país como um “porto seguro” para o capital internacional.

“Gradualmente, depois subitamente”
Um dos participantes evocou a célebre frase de Ernest Hemingway sobre a falência – “de duas formas: gradualmente e depois subitamente” – para ilustrar como mudanças de sentimento em relação ao dólar podem, rapidamente, tornar-se irreversíveis. Embora o dólar continue a dominar as reservas internacionais, a estabilidade dessa posição não é garantida.

“O domínio do dólar não é predestinado”, afirmou um representante dos EUA. “Sem reformas, nomeadamente no défice orçamental, os investidores procurarão outras alternativas.”

Euro, mas com reservas
Apesar de algumas vozes optimistas quanto à atractividade crescente do euro – incluindo o franco suíço e a libra esterlina como parte de um “bloco europeu alargado” – os participantes reconheceram que a União Europeia continua limitada por falhas estruturais, como a ausência de união bancária e de mercados de capitais integrados.

O novo Governo alemão, liderado por Friedrich Merz, foi citado como possível catalisador para investimentos em infra-estruturas e defesa que poderiam atrair fluxos de capital para a Europa. Ainda assim, o BCE demonstra pouca intenção de apoiar um euro mais forte, ao continuar a baixar as taxas de juro.

Críticas à política económica dos EUA
O grupo criticou duramente a abordagem de Trump, designando-a de “incoerente” e “irrealista”. Propostas para um novo acordo ao estilo do “Plaza Accord” de 1985 para desvalorizar o dólar foram vistas como inviáveis, dada a recusa esperada da China e do México em aderir. As narrativas sobre a “desindustrialização” dos EUA foram igualmente refutadas com base no forte crescimento do PIB per capita norte-americano na última década.

Stablecoins e o futuro do dólar
Uma das frentes emergentes na defesa do papel global do dólar passa pelo avanço das stablecoins. Representantes dos EUA defenderam que a tecnologia blockchain poderá reforçar a competitividade da moeda ao reduzir os custos de transacção e garantir liquidez nos pagamentos internacionais.

Mas os países do Sul Global advertiram que a questão vai além da disputa entre moedas dominantes. “Domínio não é sinónimo de equidade”, afirmou um representante africano, sublinhando a necessidade de uma arquitectura monetária internacional mais justa e inclusiva.

Reformar o sistema monetário internacional
O debate evidenciou um consenso crescente sobre a urgência de rever o sistema monetário global. A discussão sobre o dólar é, no fundo, uma discussão sobre governança, confiança e inclusão. Se não forem enfrentadas as assimetrias actuais, a transição para um sistema multipolar poderá acontecer mais rápido do que se espera.

Fonte: O Económico

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