Para Fernando Madureira, dizer “vale tudo” não é “incentivar a bater”. Entretanto: Aleixo pede desculpa por chapada, Polaco “bateu couro à menina”

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A questão de entrada no recinto e credenciação dominou grande parte das perguntas da parte da tarde do julgamento da Operação Pretoriano, esta segunda-feira, em que a procuradora confrontou o ex-líder dos Super Dragões com mensagens relativas a uma organização da presença maciça de apoiantes de Pinto da Costa.

Grupos de WhatsApp, um com cerca de 300 pessoas e afeto aos Super Dragões, no geral, e outro com os líderes de núcleos foram focos de discussão, com o antigo chefe da claque a reiterar que não “manda nas pessoas” nem decide como vão votar ou comportar-se – até porque disse desconhecer os estatutos do FC Porto ou as alterações que então seriam votadas – apenas que Pinto da Costa pediu voto contra nos “pontos mais quentes”.

Negando o ‘arranjo’ concertado de cartões de sócio, foi questionado com uma mensagem de uma adepta portista, identificada como “Bárbara SD”, a quem terá ameaçado e insultado. “Isso é no sentido figurado. É namorada do meu primo, e isto é tudo no sentido figurado. Tenho uma esposa, mãe, avós, sogras, tias, e três filhas. (…) Temos de perceber o conteúdo e o meu grau de confiança com a pessoa”, afirmou.

Pouco depois, admitiu que não conseguia tomar conhecimento de tudo o que lhe enviavam em “talvez 70 ou 80 grupos” na rede social e serviço de mensagens, WhatsApp, anuindo a pedidos “para despachar sem ler”. “Até me chamavam o ‘ok, ok’”, reforçou.

Madureira reiterou acusações e insinuações quanto a apoiantes de André Villas-Boas, então putativo candidato à presidência dos ‘dragões’, que viria a ganhar no ano seguinte. Para o arguido, mantiveram-se em funções os diretores de segurança e marketing do clube, responsáveis pela organização da assembleia geral, e a SPDE continua a fornecer serviços de segurança ao clube, “e os outros, tudo o que era Pinto da Costa”, foram demitidos.

De resto, e já inquirido pela defesa, manteve que se sentiu “triste e ofendido” com ofensas a Pinto da Costa, que morreu a 15 de fevereiro deste ano, e que uma reação mais ‘acesa’, violenta, “provavelmente” nasceu disso.

Também com a mulher, Sandra Madureira, outras das arguidas, afirmou ter tido quase nenhum contacto durante a assembleia geral, e reconheceu, quando confrontado com uma mensagem em que se lia “não podemos permitir que enxovalhem o presidente”, que se dirigia a apoiantes de Villas-Boas, e quando, noutra comunicação, reforça que “vale tudo” nessa sessão não era “de certeza para incentivar a bater em ninguém”.

Da parte da manhã, Madureira confessou ter “mobilizado os Super Dragões para apoiarem Pinto da Costa” na AG, negando qualquer incitação à violência, insultos ou a orquestração de intimidação, bem como a responsabilidade no clima criado.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões e a mulher, Sandra Madureira, começaram a responder por 19 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, perante forte aparato policial nas imediações. Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma assembleia-geral do FC Porto, em novembro de 2023.

Hugo Carneiro ‘Polaco’, um dos 12 arguidos da Operação Pretoriano, disse esta segunda-feira ter entrado na Assembleia Geral (AG) sem ser sócio do FC Porto, tendo ainda conseguido mais quatro pulseiras de acesso à reunião magna.

“Cheguei à entrada da AG, ‘bati o couro’ à menina e pedi-lhe pulseiras para a minha mulher e três amigas de trabalho poderem assistir. Eu não estou mal… a menina é que me deixou entrar”, justificou-se, no primeiro dia do julgamento desta operação, assentindo que não houve entraves à sua entrada no recinto.

Rebatendo a tese de conluio entre os 12 arguidos numa alegada tentativa de os Super Dragões “criarem um clima de intimidação e medo” na AG de 13 de novembro de 2023 para que fosse aprovada uma revisão estatutária “do interesse da direção” do clube, então liderada por Pinto da Costa, ‘Polaco’ garantiu que nessa noite esteve com Fernando Madureira, líder da claque, meramente de forma circunstancial.

O primeiro encontro ocorreu quando recebeu as pulseiras, entregues por Madureira, e, depois, quando foi apaziguar um desentendimento de Henrique Ramos ‘Tagarela’ com um outro amigo, numa altura em que o líder dos Super Dragões, próximo do conflito, o terá mandado subir novamente a bancada e regressar ao seu lugar, “uma vez que a situação já estava a ser sanada”.

Diz ter estado sentado na bancada central, juntamente com um amigo advogado, o professor Sá, e uma senhora “ligada à cultura”, e que, devido ao interesse da conversa, esteve totalmente alheado da AG: de igual modo, tinha um muro a seu lado que o impediu de perceber os desacatos em curso, só tomando conhecimento dos mesmos quando imitou outras pessoas e se levantou para identificar a origem do burburinho.

“Não ouvi nada, nem vi nada. É a pura das verdades o que estou a dizer em tribunal”, assegurou Hugo Carneiro, que assumiu “nunca” ter sido sócio do FC Porto, não perceber “nada” de AG nem saber os requisitos de entrada numa AG do clube.

A presidente do coletivo de juízes, Ana Dias Costa, questionou mais assertivamente o arguido quando este lhe tentou explicar a abertura de uma porta secundária no Dragão Arena, justificando que o fez por perceber que do outro lado havia uma pessoa a sentir-se mal e a precisar de assistência: a porta é opaca, sem visibilidade para o exterior.

“O senhor tem o dom de ver pelas paredes”, ironizou a juíza.

O terceiro e último dos arguidos a ser ouvido esta segunda-feira foi Vítor Oliveira ‘Aleixo’, pai de outro arguido com o mesmo nome, mas o depoimento foi interrompido no final da sessão, sendo retomado na terça-feira, em que está previsto que sejam ouvidos os outros cinco.

‘Aleixo’ confessou ter dado “uma chapada” num sócio durante a AG, por ter alegadamente insultado Pinto da Costa, e “um cachaço” num outro, abandonando a reunião magna antes de esta ser suspensa, por ter tido percebido ter tomado más decisões, segundo confessou, depois, ao filho e a Fernando Madureira.

Pediu à juíza para poder pedir desculpas a quem agrediu, bem como ao pai desse primeiro jovem, que lhe terá dado um soco em retaliação.

O arguido Vítor Oliveira, pai, o terceiro a falar, depois de Fernando Madureira e ‘Polaco’, vai continuar a ser ouvido na terça-feira, quando também deverão falar Fernando Saul, Vítor Oliveira, filho, José Pereira, Fábio Sousa e José Dias.

Ao invés, Sandra Madureira, Vitor Catão, Carlos ‘Jamaica’ e Hugo Miguel ‘Fanfas’ optaram pelo silêncio, que ainda podem vir a quebrar, em fase mais adiantada do julgamento.

Após a fase instrutória, o tribunal decidiu levar a julgamento todos os arguidos nos exatos termos da acusação deduzida pelo Ministério Público (MP), alegando que a prova documental, testemunhal e pericial é forte.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases, incluindo Sandra Madureira, Fernando Saul, Vítor Catão ou Hugo Carneiro, igualmente com ligações à claque.

Fonte: CNN Portugal

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