Resumo
Os mercados petrolíferos internacionais fecharam a semana de 19 de dezembro de 2025 em terreno negativo, com o Brent a negociar a 59,73 USD por barril e o WTI a cerca de 56,02 USD. Esta tendência reflete a mudança de foco dos investidores do risco geopolítico para os fundamentos de oferta e procura, prevendo-se um excedente global no início de 2026. O alívio das tensões na Ucrânia, com progressos nas negociações de paz indicados por Donald Trump, contribuiu para reduzir o prémio de risco nos preços do petróleo. Apesar do bloqueio de navios-tanque ligados à Venezuela pelos EUA, que representam apenas 1% da oferta global, o impacto no mercado foi limitado, não alterando significativamente o equilíbrio global de oferta e procura.
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p style="margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial">Brent Abaixo De 60 USD, Prémio Geopolítico Em Recuo E Pressão Crescente Sobre Países Produtores
Mercado Reancora-se Nos Fundamentos E Afasta-se Do Risco Geopolítico
Os mercados petrolíferos internacionais aproximaram-se do fecho da semana de 19 de Dezembro de 2025 em terreno negativo pelo segundo período consecutivo, sinalizando uma inflexão clara na leitura dominante dos investidores. O foco deslocou-se do risco geopolítico imediato para os fundamentos de oferta e procura, com destaque para a expectativa de um excedente de oferta global no início de 2026.
Com o Brent a negociar em torno de 59,73 USD por barril e o WTI a cerca de 56,02 USD, o mercado passou a operar abaixo de níveis psicológicos relevantes, reflectindo a erosão do prémio de risco que sustentou os preços em fases anteriores do ciclo.
Ucrânia E Diplomacia Reduzem O Prémio De Risco
Um dos principais catalisadores desta reavaliação foi o alívio das tensões associadas à guerra na Ucrânia. Declarações do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, indicando progressos nas conversações com vista a um eventual acordo de paz, contribuíram para reduzir a probabilidade de choques significativos do lado da oferta.
Na leitura do analista da IG, Tony Sycamore, a combinação entre incerteza quanto à aplicação efectiva de sanções e maior optimismo político está a moderar os prémios geopolíticos incorporados nos preços do crude.
Venezuela Introduz Ruído, Mas Não Altera O Equilíbrio Global
Apesar do anúncio norte-americano sobre o bloqueio de navios-tanque sob sanções ligados à Venezuela, a reacção do mercado foi limitada. A Venezuela representa cerca de 1% da oferta global, o que restringe o impacto sistémico da medida, sobretudo num contexto em que Caracas conseguiu autorizar a saída de grandes navios não sancionados com destino à China.
Para os participantes do mercado, medidas adicionais dirigidas ao petróleo russo continuariam a representar um risco de oferta significativamente superior, reforçando a leitura de que o factor Venezuela é mais ruído do que catalisador estrutural.
Excedente Global Volta A Dominar A Narrativa Do Petróleo
O pano de fundo dominante nos mercados é a crescente convicção de que o petróleo entrará numa fase de excedente no início de 2026. Praticamente todos os grandes traders globais convergem nesta leitura, com casas de referência como a Trafigura a anteciparem um ambiente estruturalmente sobre-ofertado.
Esta expectativa ajuda a explicar por que razão episódios recentes de tensão geopolítica falharam em sustentar os preços de forma duradoura, confirmando a mudança de regime no mercado.
Sinais Técnicos Reforçam A Pressão Descendente
Do ponto de vista técnico, o mercado encontra-se numa zona sensível. Uma recuperação acima da faixa dos 56,70–56,90 USD no WTI poderia indicar que a recente descida até 54,98 USD constituiu um falso rompimento.
Em sentido inverso, uma quebra consistente abaixo desse nível reacenderia o momentum descendente, abrindo espaço para uma aproximação ao patamar psicológico dos 50 USD por barril, cenário que começa a ganhar tracção entre alguns participantes de mercado.
África Entre Deterioração Dos Diferenciais E Pressão Orçamental
Este novo enquadramento de preços tem implicações directas para os países produtores africanos, num momento em que a deterioração do ambiente de preços começa a reflectir-se nos termos de troca e nas contas públicas.
Preços persistentemente abaixo de 60 USD por barril tendem a traduzir-se numa redução do preço efectivo de venda do crude, em resultado da deterioração dos diferenciais comerciais exigidos pelos compradores num contexto de abundância global. Este efeito repercute-se directamente nas receitas fiscais associadas a royalties, impostos sobre a produção e participações do Estado, comprimindo o espaço orçamental e aumentando a vulnerabilidade macroeconómica.
Receitas Em Queda E Risco Cambial Acrescido
A menor geração de receitas petrolíferas em moeda externa limita a entrada de divisas, fragiliza a posição externa e acentua a vulnerabilidade cambial, sobretudo em economias com elevada dependência do petróleo para o financiamento das importações e para a estabilização macroeconómica.
Para países como Angola, Nigéria, Congo, Gabão e Guiné Equatorial, este cenário é agravado pela necessidade de aplicar descontos comerciais mais agressivos para garantir a colocação do crude num mercado altamente competitivo, pressionando ainda mais o preço realizado.
Investimento No Upstream E LNG Sob Escrutínio
Um Brent abaixo de 60 USD por barril coloca sob maior escrutínio os projectos de upstream africanos, sobretudo aqueles com custos marginais mais elevados ou maior exposição a risco político e regulatório.
No segmento do gás natural e do LNG, a leitura de mercado é semelhante: preços mais baixos reforçam a selectividade dos compradores e elevam as exigências de competitividade económica, podendo atrasar decisões finais de investimento em novos projectos.
A trajectória recente confirma que o mercado petrolífero está a transitar de um regime dominado por choques geopolíticos para um regime ancorado nos fundamentos de oferta e procura. Para os países produtores africanos, esta mudança reforça a urgência de gestão prudente das receitas petrolíferas, disciplina fiscal e aceleração de estratégias de diversificação económica, num contexto em que a volatilidade deixou de ser episódica para se tornar estrutural.
O sinal que emerge à entrada de 2026 é inequívoco: o mercado está a precificar excedente, não escassez.
Fonte: O Económico






