Quase todas as empresas subcontratadas pelo projecto Mozambique LNG, incluindo os trabalhadores que estavam na Vila de Palma, estão a ser transferidos para a península de Afungi onde as medidas de segurança foram reforçadas e as portas estão parcialmente fechadas.
“Hoje, Afungi parece um outro país. Não é Moçambique, é um outro país. Se for por causa da segurança, todos merecemos segurança. Agora, se há problemas, é melhor que o Governo venha dizer-nos que estamos numa insegurança e vamos todos ficar ali onde há segurança”, disse Siraje Anli, Residente de Palma.
Além do isolamento de Afungi, a população de Palma denuncia incumprimento de acordos e promessas feitas no passado e pede respeito e justiça na exploração de gás na área 1 da bacia do Rovuma.
“Ocupou machambas de pessoas onde já passaram máquinas, onde havia acordo com as comunidades, mas depois virou e começou a revogação de todos acordos e as pessoas que deviam receber dois a três milhões de Meticais, agora está a dar 250 mil Meticais”, disse um residente.
“Todos os pescadores de Palma foram recenseados e alguns foram pagos, mas o maior número foi dito para esperar. Agora, faça as contas de 2015 até hoje, quantos anos passam”, disse Ibraimo Majaca, Residente de Palma.
Alguns problemas são antigos e a lista é longa e complexa, mas a maior preocupação da população de Palma, é o isolamento de Afungi, uma decisão considerada de traição, especialmente para quem esperava ficar rico ou pelo menos sair da pobreza com a exploração do gás
“O administrador vive aqui (na vila). A secretária permanente vive aqui. A UIR (Unidade de Intervenção Rápida) está aqui. Os militares também estão aqui. Eles estão fechados lá para ficar em paz e nós, como ficamos? Quem somos?”, questiona Somai Sumail, Residente de Palma.
Quase todas pessoas estão afectadas pelo isolamento de Afungi, mas a situação é considerada de crítica para os empreendedores e empresários de Palma que investiram muito dinheiro a contar com o gás.
Devido à crise provocada pelo isolamento de Palma, alguns investidores estão a vender quase tudo que tinham, e os poucos que ainda estão a resistir poderão abandonar o distrito nos próximos dias caso a península de Afungi continue parcialmente isolada.
Depois de perder muito dinheiro a contar com o gás, população, comerciantes e empresários baseados em Palma se uniram para tentar resolver o problema localmente, mas como há muito tempo, não conseguem ter uma solução local, agora pedem a presença do Presidente da República e dos donos da TotalEnergies, a multinacional francesa líder do projecto Mozambique LNG.
“E, o Governo está a distanciar-se e diz que não sabe que Palma não está seguro, muito menos que a Total está a mobilizar todas empresas que estavam aqui na vila, obrigatoriamente para irem para o acampamento, em Afungi, para eles trabalhar de forma fechada”, disse Siraje Anli, Residente de Palma.
“Estamos a pedir, muito, que Chapo venha aqui em Palma. Chapo deve vir a Palma. E, queremos o próprio dono da Total e não o adjunto, ou seja quem for. Queremos aqui o dono desta empresa Total”, disse outro residente.
O Projecto Mozambique LNG foi suspenso depois do ataque a vila de Palma registado no dia 24 de Março de 2021 e até hoje, ainda não foi anunciada oficialmente a retoma do projecto de exploração de gás na área 1 da bacia do Rovuma, que está avaliado em mais de vinte mil milhões de dólares norte americano.
Fonte: O País