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Os preços do petróleo registaram ligeira valorização esta quarta-feira, impulsionados pelas expectativas de uma forte procura durante o Verão nos Estados Unidos e na China. Ainda assim, analistas alertam que a subida poderá ser temporária, dada a fragilidade dos fundamentos macroeconómicos e as incertezas políticas globais.
O Brent subiu 36 cêntimos (0,5%), para 69,07 USD por barril, enquanto o West Texas Intermediate (WTI) avançou 47 cêntimos (0,9%), fixando-se nos 66,99 USD. Estes ganhos interrompem uma sequência de duas sessões de perdas, numa altura em que os receios de perturbações no fornecimento — relacionados com as ameaças de tarifas dos EUA sobre o petróleo russo — foram largamente desvalorizados pelos mercados.
Segundo os analistas da LSEG, “a forte procura sazonal está a dar impulso ascendente aos preços do petróleo, com o pico das viagens de Verão e da actividade industrial a coincidir”. Nos Estados Unidos, o aumento do consumo de gasolina, sobretudo durante o feriado do Dia da Independência, serviu como indicador de robustez da procura de combustíveis.
China Surpreende Com Dados Menos Negativos
Do lado da China — maior importador mundial de petróleo — os dados económicos revelaram um abrandamento no segundo trimestre, mas menos acentuado do que o esperado, graças à antecipação de encomendas para evitar tarifas dos EUA. O refinamento de petróleo bruto em Junho aumentou 8,5% em termos homólogos, reforçando sinais de solidez da procura interna.
Ainda assim, alguns analistas mantêm uma leitura cautelosa:
“Grande parte da estabilização dos preços resulta de uma correcção técnica suave, e não de uma mudança estrutural dos fundamentos”, observou Priyanka Sachdeva, da Phillip Nova.
Tarifas de Trump e Perspectivas Inflacionistas
A retórica de Donald Trump sobre tarifas mais amplas está a ser lida como potencialmente inflacionista, o que poderá prejudicar a procura de combustíveis no médio prazo. Isso coloca pressão sobre os decisores da Reserva Federal, que poderão ter de reagir com ajustes na política monetária — gerando mais incerteza nos mercados energéticos.
“Os investidores devem acompanhar de perto as expectativas de inflação e de taxas de juro nos EUA, pois novas tarifas poderão conter a procura de combustíveis”, acrescentou Sachdeva.
OPEP Optimista, Mas Mercado Sem Direcção Clara
A OPEP, no seu último relatório mensal, manteve uma perspectiva mais optimista, apontando para uma recuperação mais sólida da economia mundial na segunda metade de 2025, com destaque para o desempenho acima das expectativas de Brasil, China e Índia.
No entanto, mesmo com algum alívio técnico nos preços, muitos observadores continuam cépticos quanto à sustentabilidade da tendência.
“Até que haja clareza sobre o crescimento global, o rumo das políticas e a recuperação efectiva da procura — especialmente na Ásia —, o mercado petrolífero permanecerá preso a uma trajectória lateral”, concluiu Sachdeva.
Os preços do petróleo estão a ser temporariamente sustentados pela procura sazonal e por dados económicos menos negativos vindos da China. No entanto, o equilíbrio do mercado permanece frágil, sujeito a choques tarifários, incertezas monetárias e à ausência de sinais robustos de recuperação da procura global. A trajectória dos próximos meses dependerá tanto da política energética como do rumo das principais economias mundiais.
Fonte: O Económico