Presidente Chapo Acusa Banca de Criar Escassez Cambial e Exige Mais Transparência do Banco Central

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Questões-Chave:

O Presidente Daniel Chapo responsabilizou os bancos comerciais por fomentarem artificialmente a escassez de divisas no país, transformando-a em fonte de lucro. Num encontro com empresários em Sofala, o Chefe de Estado exigiu ao Banco de Moçambique uma política cambial mais transparente, alertando que “nunca faltou moeda estrangeira para pagar dividendos ou salários dos próprios banqueiros”.

Numa intervenção marcada por críticas directas ao sistema financeiro nacional, o Presidente moçambicano apontou o dedo à banca comercial, acusando-a de perpetuar uma crise de acesso a divisas com fins especulativos.

“Não há uma verdadeira escassez [de divisas], é uma escassez criada”, afirmou Chapo, acusando os bancos de aproveitarem-se da situação para “fazer negócio todos os dias”.

As declarações surgem num contexto de crescente frustração empresarial. Em Fevereiro deste ano, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) alertou que a falta de moeda estrangeira estava a travar operações críticas nos sectores da saúde, aviação, combustíveis e importação alimentar.

Durante o encontro em Sofala, o Presidente foi ainda mais incisivo:

“Nunca ouviram que faltou divisas para pagar salários a eles [banqueiros] ou distribuir dividendos. Só falta para os empresários como o Félix Machado, que quer importar bens.”

Reservas Cambiais Estão a Crescer

Paradoxalmente, as reservas internacionais líquidas (RIL) de Moçambique têm vindo a recuperar. Em Maio, atingiram 3.825 milhões de dólares, o valor mais elevado em quatro anos, cobrindo mais de três meses de necessidades de importações, de acordo com dados do Banco de Moçambique.

Este crescimento — após um ponto baixo de US$ 3.593 milhões em Fevereiro — resulta de três meses consecutivos de reforço cambial, o que levanta dúvidas sobre a real escassez de divisas no sistema.

Banco Central Reconhece “Dolarização” e Clima de Desconfiança

O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, reconheceu em Maio que o país viveu um momento de dolarização da economia no final de 2024 e início de 2025, num ambiente de incerteza pós-eleitoral. A fuga de capitais e a conversão de activos em dólares por parte de empresas e cidadãos reflectiram uma quebra de confiança generalizada.

“Janeiro foi o momento mais difícil. Houve perda de confiança, muita gente quis sair do país e proteger os seus activos”, afirmou Zandamela.

O banco central adoptou, desde então, novos normativos para facilitar o acesso às divisas, embora os empresários continuem a relatar dificuldades.

As críticas de Chapo à banca e ao banco central lançam luz sobre uma tensão estrutural entre política monetária, confiança institucional e acesso à moeda externa. Embora os indicadores mostrem melhoria nas reservas cambiais, a persistência da escassez no sector produtivo levanta questões sobre governança, distribuição e funcionamento do sistema financeiro.

Ao exigir uma política cambial mais transparente, o Presidente abre um novo capítulo na relação entre o Governo, a banca e os empresários — com implicações directas para o ambiente de negócios, a confiança económica e a credibilidade institucional.

Fonte: O Económico

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