A África Subsahariana encontra-se num ponto crítico, enfrentando ameaças climáticas cada vez mais severas enquanto luta para promover um crescimento económico sustentável. Com temperaturas médias a subir mais rapidamente do que a média global e eventos climáticos extremos em ascensão, a região sofre com perdas económicas significativas e impactos sociais severos. Contudo, o relatório “Growing Resilience”, elaborado pelo World Resources Institute (WRI) e pelo Global Facility for Disaster Reduction and Recovery (GFDRR) do Banco Mundial, destaca um caminho promissor: as Soluções Baseadas na Natureza (NBS).
Segundo o documento, os projectos de NBS aumentaram cerca de 15% ao ano entre 2012 e 2022, captando mais de 12 mil milhões de dólares nesse período. No entanto, esse montante representa apenas uma fracção do investimento necessário para enfrentar os desafios climáticos que assolam o continente. O sucesso dessas iniciativas depende de mudanças estruturais nas políticas públicas, de mais financiamento e de uma abordagem integrada entre governos, sociedade civil e sector privado.
A Urgência de Soluções Baseadas na Natureza
A degradação dos ecossistemas e a perda de biodiversidade agravam os desafios climáticos em África. Cerca de 65% das terras aráveis da região estão degradadas, o que provoca perdas anuais de até 9% do PIB em alguns países. Além disso, a desertificação, a desflorestação e a degradação dos solos aumentam a vulnerabilidade de milhões de africanos que dependem da agricultura e dos recursos naturais para a sua subsistência.
Ao mesmo tempo, a rápida urbanização pressiona a infra-estrutura e os serviços básicos. Em muitas cidades africanas, os sistemas existentes já não conseguem fornecer serviços essenciais como abastecimento de água, saneamento e electricidade. Com o crescimento populacional a duplicar até 2050, a situação poderá tornar-se insustentável.
O Potencial das NBS para Reforçar a Resiliência Climática
O relatório identifica 297 projectos de NBS na África Subsaariana entre 2012 e 2023, revelando um crescimento significativo no uso dessas soluções para mitigar os impactos climáticos. Estes projectos concentram-se na gestão da água, na reflorestação, na protecção costeira e na restauração de ecossistemas.
Entre as soluções mais implementadas, destacam-se a reflorestação e a gestão sustentável das florestas, que reduzem a erosão dos solos, melhoram a qualidade da água e aumentam a biodiversidade. O restauro de mangais e zonas húmidas mostra-se essencial para proteger comunidades costeiras contra inundações e tempestades. Nas áreas urbanas, infra-estruturas verdes, como parques, telhados verdes e jardins de chuva, contribuem para a redução do efeito de ilha de calor e melhoram a drenagem urbana. No sector agrícola, os sistemas agroflorestais, que combinam árvores com a produção agrícola, aumentam a produtividade dos solos e reduzem a necessidade de fertilizantes químicos.
Os países da África Oriental captaram 49% do investimento total em NBS entre 2012 e 2021, com a Etiópia a liderar, absorvendo 20% dos fundos. Entre 2022 e 2023, o foco do financiamento deslocou-se para a África Ocidental, reflectindo uma mudança estratégica na abordagem dos investidores.
Desafios na Implementação das NBS
Apesar do potencial das NBS, a sua implementação enfrenta diversos desafios estruturais. O relatório destaca cinco principais barreiras.
A ausência de políticas públicas adequadas e de incentivos governamentais direccionados faz com que muitas administrações continuem a favorecer infra-estruturas tradicionais (cinzentas) em detrimento das NBS. A capacidade técnica limitada, associada à escassez de especialistas e recursos qualificados, dificulta a concepção e a implementação eficaz dos projectos. A dificuldade no acesso ao financiamento, apesar dos esforços dos bancos multilaterais, ainda impede que pequenas e médias iniciativas consigam escalar as suas operações. O envolvimento insuficiente das comunidades locais resulta em projectos desalinhados com as necessidades e os conhecimentos tradicionais das populações. A monitorização e avaliação deficientes reduzem a capacidade de medir o impacto das NBS, dificultando a atracção de mais investidores.
O Caminho para Escalar as NBS em África
Para desbloquear todo o potencial das NBS e garantir a sua expansão, o relatório propõe seis recomendações estratégicas.
A integração das NBS nas políticas públicas nacionais e locais, incluindo planos de adaptação climática e ordenamento do território, surge como um passo fundamental para consolidar o seu impacto. O aumento da capacidade técnica, por meio da formação de especialistas e da disseminação de boas práticas, será crucial para melhorar a implementação dos projectos. A inclusão social, assegurando que as iniciativas contemplem equidade de género e valorizem os saberes tradicionais, ajudará a garantir maior aceitação e sucesso. A diversificação das fontes de financiamento, explorando mecanismos como obrigações verdes, fundos nacionais para o clima e pagamentos por serviços ambientais, poderá facilitar o crescimento do sector. A adaptação de estratégias consoante o contexto de cada país será necessária para considerar factores como fragilidade política e impacto das alterações climáticas. O investimento na monitorização e avaliação, para demonstrar os benefícios reais das NBS, terá um papel essencial na consolidação e expansão destas soluções.
NBS Como Pilar para um Futuro Sustentável
As Soluções Baseadas na Natureza representam uma das abordagens mais promissoras para enfrentar os desafios climáticos e ambientais da África Subsaariana. O relatório “Growing Resilience” revela um progresso significativo na adopção dessas soluções, mas também enfatiza que ainda há um longo caminho a percorrer.
Com investimentos estratégicos, apoio político e envolvimento das comunidades, as NBS podem tornar-se uma peça-chave na construção de um continente mais resiliente, sustentável e próspero. O momento de agir é agora, e as decisões tomadas hoje irão moldar a capacidade de adaptação de África às mudanças climáticas nas próximas décadas.
Fonte: O Económico