Por: Sara Seda
Todo final de ano, em Moçambique, a quadra festiva chega acompanhada de algo ainda mais poderoso: a subida dos preços. A inflação é tão garantida quanto o calor de Dezembro, basta piscar e, de repente, o país entra num modo frenético, uma mistura de euforia e irresponsabilidade financeira que até assusta. O 13º? Ah! Desse nem vou falar; para muitos, é apenas uma lenda urbana, semelhante à do Pai Natal: muita gente fala, mas poucos veem.
As mães, sempre visionárias, já começam o rancho antecipado, uma verdadeira operação de guerra, porque sabem que produtos de primeira necessidade ganham novos status: se não comprar hoje, amanhã o preço já mudou. Enquanto isso, os vendedores entram na quadra com o mesmo espírito festivo, mas sem dó nem piedade. Eles olham para a etiqueta de preço, olham para o calendário de Dezembro, e pensam: “Por que não?” E zás! Preço triplicado.
O óleo começa a agir como se fosse perfume importado; o tomate passa a ser tratado como se fosse caviar; o frango… bom, o frango vira ave exótica; o açúcar sobe, desce, depois sobe de novo; e o arroz? Esse já desistiu de ser básico faz tempo; agora quer viver como um item de luxo. É uma alta de preços tão descontrolada que se a inflação fosse pessoa, já estaria nos stories a se gabar: “Subi de novo, amores!”.
Os mesmos, em Janeiro, passam o mês a olhar para a caixa dos produtos a apodrecer, porque o povo já aprendeu que Natal não é um aviso de apocalipse. É só um dia com a música mais alta e filhos a pedir coisas que os pais não podem comprar.
aÉ claro, a quadra festiva não pára nos alimentos, não, não… Os jovens começam logo a calcular onde vão “curtir até cair. É aqui que entra o departamento estético, o mais movimentado da temporada, unhas que parecem antenas parabólicas, pestanas capazes de gerar energia eólica, apliques, próteses capilares, tudo falso, do cabelo ao corpo, mas mesmo assim exige que a vida… essa sim, seja verdadeira, ironia pura. Roupa então? Nem se fala: tem de ser roupa nova, do tom exacto que vai “atrair sorte”. Verde para dinheiro, amarelo para prosperidade, branco para paz… e claro, não pode faltar o famoso jogo da troca de presentes, aquele momento mágico em que se percebe que a vida é mesmo feita de surpresas, e algumas vêm em pacotes leves e frustrantes.
E depois da sessão de fotos, a única coisa que realmente chega é a factura e a maratona mais conhecida de Moçambique: a busca no privado por quem pode emprestar dinheiro. Empresta só 2000 meticais. Estou numa situação complicada. Situação complicada? No fim, a quadra festiva em Moçambique é assim: um espectáculo, com preços inflacionados num ritmo que nem os novos passos de dança conseguem acompanhar, expectativas elevadas, contas baixas, ilusões de alta definição. O povo ri, reclama, compra, exagera, tira foto, exagera mais um pouco, e termina o ano ao mesmo tempo feliz e falido.






