O director da Faculdade de Ciências de Linguagem, Comunicação e Artes da Universidade Pedagógica de Maputo, Paulino Fumo, considera que, apesar dos avanços registados nas últimas décadas, a educação moçambicana enfrenta hoje desafios significativos que comprometem a qualidade do ensino. Segundo o especialista, factores como a superlotação de turmas, a insuficiência de recursos, a motivação reduzida dos professores e a instabilidade curricular dificultam o processo de aprendizagem e a consolidação de um ensino verdadeiramente inclusivo e eficaz.
“Estamos a lidar com situações em que um único professor é responsável por turmas de 60, 70 ou mais alunos, muitas vezes distribuídos em dois ou três turnos diários. Como podemos garantir qualidade quando os docentes não têm condições adequadas para acompanhar cada estudante?”, questiona Fumo. O director alerta que, embora o ensino seja centrado no aluno, sem infraestrutura adequada e professores motivados, o objectivo de formar cidadãos críticos e preparados para os desafios do país permanece distante.
Fumo destaca que a introdução das línguas locais no sistema de ensino representa um avanço estratégico, permitindo uma educação mais inclusiva e culturalmente relevante. No entanto, a implementação efectiva depende da formação de professores capacitados para actuar em diferentes realidades regionais, respeitando as especificidades linguísticas e culturais de cada comunidade.
Outro desafio emergente apontado pelo Director da Faculdade de Ciências de Linguagem, Comunicação e Artes da Universidade Pedagógica de Maputo é a incorporação da inteligência artificial (IA) na educação. Segundo o professor, o uso de tecnologias digitais oferece oportunidades de personalização do ensino, avaliação mais precisa e gestão pedagógica mais eficiente. “A IA pode ser uma ferramenta poderosa, mas exige investimentos, formação contínua e infraestruturas adequadas. Sem estes elementos, o seu impacto permanece limitado”, explica.
Além destes factores, ressalta que a constante alteração dos currículos dificulta a consolidação de práticas educativas consistentes. “A mudança permanente dos programas compromete a estabilidade do ensino e impede que professores e alunos alcancem resultados sólidos. Precisamos de currículos estáveis, adaptáveis à realidade regional, mas que permitam consolidação e progresso ao longo do tempo”, sublinha.
Fumo também aponta que a formação docente, embora tenha registado avanços desde a independência, ainda é insuficiente para atender à demanda crescente de profissionais qualificados, especialmente no ensino primário. “Os institutos de formação e universidades trabalham arduamente, mas o país ainda precisa de mais estratégias para preparar professores que respondam às necessidades específicas de cada comunidade”, observa.
O especialista lembra que o país tem avançado em vários aspectos desde 1975, com a expansão da rede escolar, massificação do ensino e criação de programas de formação docente, mas a realidade diária nas escolas continua a desafiar o potencial de progresso. A infraestrutura escolar, em muitas regiões, permanece inadequada, com crianças a estudar em condições precárias, sem materiais suficientes e em ambientes improvisados, como salas temporárias ou mesmo debaixo de árvores.
O tema ganha maior relevância com a celebração do Dia do Professor, comemorado este domingo a nível internacional. Para Fumo, a data não deve servir apenas para homenagens simbólicas, mas como um momento de reflexão sobre a necessidade de valorizar os docentes, garantir melhores condições de trabalho e reconhecer a importância da profissão na construção do país. “Restaurar a dignidade do professor é restaurar a dignidade da escola e da educação”, conclui.
Fonte: O País