O projeto «Play Like a Pro» é um dos principais fluxos de receita do GDS Cascais SAD e explica bem a intenção do clube em apostar no mercado internacional, sobretudo no que à aposta na formação diz respeito.
Em entrevista ao Maisfutebol, Gonçalo Moura, o CEO do GDS Cascais SAD, fala sobre a importância de melhorar as infraestruturas e assegurar a criação de um espaço para o clube, como forma de «rentabilizar os ativos». Além disso, explica a forma como será criada a equipa de futebol feminino, que pode ser o «centro das atenções», caso o impacto desportivo e financeiro seja superior à equipa masculina.
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Maisfutebol: O Estádio do GDS Cascais tem atualmente uma lotação de mil pessoas, é uma prioridade do GDS Cascais SAD melhorar as infraestruturas?
Gonçalo Moura: Infelizmente, clubes como o Estoril e outros da II Liga têm capacidade para muitos milhares de pessoas, mas na prática têm poucas pessoas a assistir aos jogos. Essa é uma das grandes lacunas do nosso futebol. Temos objetivos muito claros para o futuro próximo. Queremos estar no “top-10” de clubes na zona de Lisboa e para isso acontecer há alguns pontos que têm de ser conseguidos.
MF: (…)
GM: Neste momento, como em qualquer SAD, temos um espaço alugado que não é nosso. É um espaço incrível, mas que não permite o desenvolvimento do futebol, da forma como o queremos fazer, profissionalizando-o. Além disso, temos o râguebi (Dramático de Cascais), que está há muitos anos na primeira divisão nacional. Queremos criar um espaço para nós e em 2025, identificar um terreno que possa ser viável, arranjar um escritório de arquitetos que possa fazer este projeto connosco e tentar trazer a Câmara Municipal de Cascais para dentro deste projeto. Sem os adeptos e a comunidade, acho que é redutor.
MF: (…)
GM: Em 2030, parte do Mundial será em Portugal e tínhamos um objetivo interno de receber uma Seleção Nacional em Cascais. Diria que neste momento existem poucos espaços que possam fazer algo do género. Temos a Cidade do Futebol, as academias de Benfica e Sporting e o mais próximo a seguir a isto deve ser em Rio Maior. Vamos tentar construir o melhor possível com base no espaço que temos e no que nos permitirem fazer.
MF: Formação em Portugal é uma das melhores do mundo e vemos jogadores portugueses a jogar nas melhores equipas. Quais são os planos do clube para a formação?
GM: A nossa formação faz parte da nossa comunidade. É fulcral, porque queremos fazê-lo, queremos ter um processo de longo prazo para que os jogadores se sintam bem aqui. Cascais é um bom local, porque estamos próximos de Sintra, Oeiras e Lisboa. Acreditamos que há matéria-prima (jogadores) e formadores (treinadores e restante staff) suficientes para existir o Sporting, o Benfica, o Belenenses, o Estoril ou o Casa Pia. Acreditamos que há espaço para o Cascais entrar nesta elite do futebol em Lisboa e a formação faz parte deste processo.
MF: Em que é que consiste o Projeto Play Like a Pro?
GM: É um dos nossos principais fluxos de receita e que não está associado à área da performance. Este projeto foi responsável por 75 a 80 por cento das receitas nas últimas duas temporadas. No fundo, passa por criar um plano de desenvolvimento (duas semanas ou dez meses) para atletas que vêm de fora e que querem vir para Portugal, aprender e usufruir da nossa qualidade do ponto de vista técnico e tático. Fazemos sempre um processo individual para cada jogador, com avaliação médica e o apurar de expetativas com um psicólogo.
MF: (…)
GM: Até ao momento, na temporada, tivemos no plantel um guarda-redes dinamarquês, um guarda-redes norte-americano (entre primeira equipa e sub-19), temos um central norueguês, um médio canadiano, um médio norte-americano, um extremo norueguês e um avançado finlandês. O que queremos é dar uma oportunidade aos jovens de trabalharem com o maior profissionalismo possível.
MF: (…)
GM: Há malta que olha para o mercado de inverno como uma “tábua de salvação” e nós sentimos um pouco o oposto. Não tinha esta ideia, mas na distrital, os clubes já não deixam sair os jogadores no mercado de inverno. Tivemos alguns negócios alinhavados, mas quando chegávamos ao clube diziam que o jogador não saía ou então pediam valores surreais. Percebemos que perante este contexto, o mercado internacional pode ser uma boa saída para o Cascais, com jogadores que queiram aliar a capacidade àquilo que é uma experiência fora do próprio país.
MF: GDS Cascais SAD pode ser uma espécie de «salto» para um jogador mais novo, que potencie as qualidades aqui e depois gere rendimento desportivo e financeiro?
GM: Temos de ser realistas. Olhamos para a nossa realidade e pensamos se houve algum clube na II Liga que tenha feito dinheiro a vender um atleta? Claro que já existiram alguns casos, mas foram esporádicos e também é preciso perceber os valores envolvidos nesses negócios. Provavelmente só mais tarde é que estes tipos de fluxos de receita vão ser importantes para o clube. O nosso propósito é rentabilizar os ativos. Queremos que os escalões de formação tenham condições para manter os jogadores. Estamos a fazer um investimento a dez anos, desde os recursos humanos até às instalações.
MF: Quanto ao futebol feminino, quais são as perspetivas do clube para a criação de um plantel. O objetivo será construí-lo em 2026/27?
GM: É um assunto muito importante para nós e que tratamos com seriedade. Temos duas opções em cima da mesa. Uma é a SAD masculina do Cascais assumir a criação de uma equipa de futebol feminino e consequentemente começa na última divisão (quarta), tendo em conta as regras. A segunda opção passa por criar uma SAD feminina, como o Damaiense ou o Racing Power, e damos essa responsabilidade a parceiros que olhem para o futebol feminino como nós olhamos para o futebol masculino.
MF: (…)
GM: Uma coisa é certa, quando o fizermos, queremos que as duas equipas tenham as mesmas condições. Se só o futebol feminino tiver mais impacto desportivo e financeiro do que o futebol masculino, por que não apostar mais no futebol feminino e ser essa a grande secção da SAD do Cascais. A verdade é que queremos fazê-lo (criar a equipa) e fazê-lo muito bem.
Fonte: Mais Futebol