Nascido para o futebol a vestir o azul do Carregado, em Lisboa, Pedro Ganchas dá os primeiros passos no estrangeiro, atravessando um inverno rigoroso. De regresso à Dinamarca, depois da pausa competitiva, o defesa central formado pelo Benfica – e ex-Paços de Ferreira – retoma a campanha em Silkeborg, onde mora o 7.º classificado da Liga, a dois pontos dos lugares que permitem disputar o título. Em simultâneo, este emblema ambiciona revalidar a conquista da Taça e alcançar a Europa.
Na presente temporada, Pedro Ganchas acumula 25 jogos e dois golos, aproximando-se do máximo estabelecido em 2023/24 – 30 partidas, dois golos e uma assistência pelo Paços de Ferreira.
Ao Maisfutebol, o defesa de 24 anos abre o livro sobre os desafios encontrados – muito para lá do futebol – e garante que há talento a despontar, da defesa ao ataque.
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Maisfutebol: Como é a vida na Dinamarca?
Pedro Ganchas: Tem sido uma experiência agradável, ainda que o contexto seja diferente. Nunca tinha lidado com uma interrupção de inverno, o que altera as rotinas da época. A nível de quotidiano, a Dinamarca é diferente de Portugal. A cidade de Copenhaga é de nível europeu, grande e diferente de Silkeborg. Os dinamarqueses têm uma cultura virada para dentro, apostando no comércio local, pelo que Copenhaga é a exceção. Este país tem um ritmo laboral diferente, porque começam e acabam cedo, uma dinâmica também influenciada pelo frio e pela duração da luz solar. Até na comida se resguardam para combater as sensações térmicas de -7 e -8.ºC.
MF: (…)
PG: É um desafio para mim, a nível desportivo obriga a outras contingências, não se compara a Portugal. O choque foi sentido quando regressei para o retomar do campeonato. Parámos no final de dezembro. No início da época ainda convivi com uma temperatura amena. Agora sim, sinto esse choque. Por isso tenho de me precaver, até na preparação para o treino, pela quantidade de roupa que visto.
MF: O plantel do Silkeborg é sobretudo nórdico, certo?
PG: Somos poucos estrangeiros e o neozelandês – o avançado Callum Mccowatt – está na Dinamarca há cinco anos. Um caso semelhante ao meu só do médio do Cazaquistão [Ramazan Orazov]. O Silkeborg não tem a cultura de receber jogadores estrangeiros. É um projeto em crescimento. Ainda assim, os dinamarqueses falam bem inglês, o que facilita a adaptação. São pessoas impecáveis, um povo muito acolhedor. São menos sociáveis do que os portugueses, mas são muito prestáveis.
MF: Estão no 7.º lugar da Liga e nas meias-finais da Taça. Quais os vossos objetivos?
PG: O Silkeborg tem crescido de forma contínua, subiram à Liga há cinco anos. O objetivo passa pelo “top-6” e por lutar pela Taça, somos os detentores da prova.
MF: Vive a época de estreia no estrangeiro. Emigrou para a Dinamarca com o objetivo de disputar as competições europeias?
PG: Continua a ser um objetivo. Faltou-nos sorte e maturidade nas fases de qualificação para a Liga Europa e para a Liga Conferência.
MF: Perderam frente ao Molde, na Liga Europa, e diante o Gent, na Liga Conferência.
PG: Não éramos favoritos, mas ficámos com a sensação de que poderíamos ter vencido – sobretudo contra o Gent, em que sofremos golos aos 90+3 e 118m. Ainda que seja difícil equiparar as equipas por dois jogos, ficámos com a sensação de que poderíamos competir na Liga Conferência e alcançar, pelo menos, o play-off [de acesso aos “oitavos”].
MF: O Copenhaga é o principal embaixador da Dinamarca. Que campeonato encontrou?
PG: É uma Liga a crescer, fiquei surpreendido pela qualidade e pela intensidade, algo de novo face às minhas últimas duas épocas [no Paços de Ferreira]. O apoio e a forma como as pessoas se deslocam aos estádios também é diferente. Há uma cultura pacífica, vão ao futebol pelo prazer. Todos, de miúdos a graúdos. Em Portugal, muitas pessoas não apoiam o clube da cidade natal, preferem os “grandes”. Aqui não, as pessoas são apenas do Silkeborg. E é também por isso que os estádios enchem na Dinamarca, independentemente do adversário ou da fase da época. Há essa cultura local e bairrista.
MF: No caso do Pedro, sempre apoiou o Benfica?
PG: Posso dizer que nasci benfiquista, numa família que tem um portista pelo meio. Depois tive a oportunidade de fazer a formação no Benfica, o que trouxe esse carinho especial.
MF: Alguns clubes portugueses apostam no mercado nórdico, com Gyökeres, Harder, Schjelderup, Hjulmand, Gül e Dahl à cabeça. Há muito talento “made in” Dinamarca?
PG: É difícil garantir que essa afirmação vai acontecer, porque a cultura dinamarquesa é diferente daquela vivida em Portugal. Em todo o caso, a nível técnico e físico, há bastantes jogadores como eles na Dinamarca. Fiquei surpreendido. Claro que, ao saírem, a afirmação vai depender da adaptação a um contexto mais tático, de menos transições. Pelo que se vê nesta Liga, vão continuar a surgir talentos com capacidade para altos voos.
Fonte: CNN Portugal