Uma testemunha acusou esta terça-feira a antiga direção do FC Porto, liderada por Pinto da Costa, de ser responsável pelos desacatos na Assembleia Geral de novembro de 2023.
«Todos os órgãos sociais do clube foram incapazes de um só ato, de pôr termo àquilo. É óbvio que aquilo foi organizado. Se a administração não autorizasse aquele circo, ninguém o faria. [Os Super Dragões] foram o peão de quem estava mais acima», referiu António Lopes, no depoimento prestado na oitava sessão do julgamento da Operação Pretoriano, no Tribunal de São João Novo, no Porto.
António Lopes, que é sócio há 55 anos e trabalhou no FC Porto nas décadas de 1980 e 1990, na formação do hóquei em patins e futebol, esteve na AG com uma sobrinha, a neta de 22 anos e três amigos, um deles o agente da PSP (fora de serviço) Bruno Branco, outra testemunha arrolada no processo. Disse ter sido dos primeiros a chegar à zona de credenciação, mas foi ultrapassado por muitas pessoas, além de ter havido insultos dirigidos a si e a um grupo de adeptos. Disse ainda que viu o arguido Vítor Catão «possuído, a insultar toda a gente», incluindo uma equipa de reportagem.
«Fernando Madureira dava papéis, dava cartões, outros davam pulseiras. Valia tudo»
Lopes relata que telefonou à polícia, para denunciar que o evento «era capaz de acabar mal», adiantando que vários sócios eram «aterrorizados e enxovalhados», assim como a neta, que chegou a entrar «em pânico» no interior do auditório, tendo então abandonado o local, sem seguir para o Dragão Arena. «Eu andei na guerra, não fico muito intimidado, mas estava com a minha neta e sobrinha, fiquei com algum receio. Antes da acreditação, ainda rebentaram três petardos, foi um pânico generalizado. Fernando Madureira dava papéis, dava cartões, outros davam pulseiras. Valia tudo», contou.
A testemunha notou, porém, que Madureira não teve comportamentos negativos, reforçou que não queria «condenar» os Super Dragões, mas sim relatar o que viu e a forma como achou que os desacatos foram «montados pela administração». Avisou ainda, sem resposta positiva, o presidente da Mesa da Assembleia-Geral, Lourenço Pinto, da probabilidade de confusão.
«Um elemento dos Super Dragões esteve uns dez minutos a olhar para mim»
A técnica de contabilidade, Marta S., também ouvida esta tarde, relatou ter sido agredida com dois pontapés pelo arguido Hugo Loureiro, que identificou na sala de audiências (não o conhecia à data dos factos). Recorreu a um vídeo nas redes sociais para o reconhecer, fazendo queixa contra desconhecidos. Terá sido agredida, contou, por ser conotada com André Villas-Boas. «Sei que não passo despercebida [nos jogos], já tive algumas situações que me mostraram isso. Um elemento dos Super Dragões esteve uns dez minutos sempre a olhar para mim. Na primeira assembleia-geral desta direção, fui insultada», acrescentou.
Também esta terça-feira, um enfermeiro de serviço na AG disse que tratou «cerca de 12 pessoas» agredidas na reunião magna. À semelhança de outras sessões, várias testemunhas pediram para serem ouvidas na ausência dos arguidos, que saíram da sala para o tribunal questionar um enfermeiro que presta serviços ao FC Porto há quase 30 anos, no hóquei em patins e no futebol, e que tinha sido destacado para, com um médico, trabalhar na AG.
O enfermeiro contou ainda que foi insultado por Catão, por «estar vestido de verde», roupa que, disse, levou vestida por mera casualidade.
A oitava sessão do julgamento arrancou com a audiência de vários agentes da PSP que realizaram buscas a casa de arguidos. Dois detalharam terem apreendido uma arma, de calibre 6.35 mm, com duas munições, ao arguido Hugo Loureiro, que estava na mala do carro, por indicação do próprio aos agentes. Na casa deste, encontraram ainda a roupa que consideraram que o arguido tinha utilizado na noite da AG, bem como «autocolantes com a cara do atual presidente do FC Porto, André Villas-Boas». Os agentes detalharam nada ter encontrado nas buscas domiciliárias junto dos arguidos José Pedro Pereira e Vítor Oliveira ‘Aleixo’, o filho.
O julgamento leva já dezenas de depoimentos de testemunhas em atraso. A próxima sessão está marcada para 22 de abril.
Fonte: CNN Portugal