O sector automóvel da África do Sul atravessa uma crise estrutural, com o encerramento de 12 empresas e a perda de mais de 4.000 empregos nos últimos dois anos, pressionado por fracas vendas internas, baixo nível de conteúdo local e tarifas punitivas dos Estados Unidos. A situação ameaça as metas ambiciosas do South Africa Automotive Masterplan 2035 e levanta questões sobre a resiliência e competitividade desta indústria-chave para a economia do país.
Segundo o Ministro do Comércio, Parks Tau, a produção local atingiu apenas 515.850 unidades em 2024, muito aquém do alvo de 784.509 veículos fixado para 2035. Actualmente, cerca de 64% dos automóveis vendidos no mercado sul-africano são importados, enquanto a taxa de localização — que mede o conteúdo local em montagem, mão-de-obra e componentes — permanece estagnada nos 39%, bem abaixo da meta de 60%.
As tarifas de 30% sobre veículos e peças automóveis impostas pelos EUA em Abril, que afectam um mercado de exportação de 28,7 mil milhões de rands, agravam o cenário. Algumas empresas já perderam contratos nos EUA, aumentando o risco de novos cortes de pessoal.
O Governo sul-africano submeteu recentemente uma proposta revista a Washington para tentar aliviar estas tarifas e incluiu no seu esquema de incentivos à produção local a fabricação de veículos eléctricos e componentes associados. Tau sublinhou que “a localização não é apenas uma questão de conformidade política, é existencial”, acrescentando que um aumento de apenas 5% no conteúdo local desbloquearia 30 mil milhões de rands em novas compras, valor muito superior às actuais exportações para os EUA.
Apesar do quadro adverso, fabricantes internacionais como a Stellantis e a chinesa Chery estudam projectos para iniciar a produção local, com a Stellantis já pronta para iniciar obras na província do Cabo Oriental.
O futuro do sector dependerá da capacidade de adaptação às novas regras do comércio internacional, do sucesso na atracção de investimento industrial e da criação de políticas eficazes para aumentar a competitividade interna, num mercado cada vez mais global e disputado.
Fonte: O Económico