A situação crítica das estradas na cidade e província de Maputo continua a agravar-se, com a Administração Nacional de Estradas (ANE) revelando um défice orçamental de 700 milhões de meticais (aproximadamente 10,8 milhões de dólares) para a manutenção das vias da região. O orçamento disponível para este ano é significativamente inferior ao necessário, o que ameaça prolongar a situação lastimável das rodovias da capital e suas imediações, em um momento em que a população já se encontra com um sentimento crescente de insatisfação devido às condições das estradas.
O delegado da ANE, Dade Novelo, comunicou que a previsão inicial para a manutenção das estradas era de 1 mil milhão de meticais mas o orçamento disponibilizado para o trabalho de reparação e conservação das vias nas zonas urbanas e suburbanas é de apenas 300 milhões de meticais (cerca de 4,6 milhões de dólares). Esse défice orçamental coloca em risco a capacidade da ANE de realizar as intervenções necessárias, que incluem não só a reparação das vias existentes, mas também a execução de obras essenciais para a melhoria da mobilidade e segurança nas ruas da cidade e província de Maputo.
O Impacto da Falta de Recursos para a Manutenção
Com o orçamento reduzido, a ANE poderá reparar apenas uma pequena parte das estradas que necessitam de manutenção urgente. Muitas das vias de Maputo e seus arredores não recebem obras de conservação há mais de dez anos, o que resulta em estradas deterioradas e inseguras, com buracos e alagamentos frequentes. Este estado precário não apenas prejudica a mobilidade, mas também aumenta os riscos de acidentes, afetando diretamente a segurança dos motoristas, passageiros e pedestres.
O prolongamento da situação de negligência nas infraestruturas rodoviárias contribui para o descontentamento popular. A falta de alternativas viáveis para os cidadãos que necessitam de boas estradas para o seu dia a dia, seja para trabalho, transporte de mercadorias ou outros serviços, está a agravar ainda mais a situação social e económica na capital e nas zonas periféricas. O clima de insatisfação tende a crescer, à medida que a população se vê forçada a enfrentar as péssimas condições das vias, sem uma solução à vista.
A Época Chuvosa e a Necessidade de Mais Investimentos
Além dos desafios financeiros, a ANE também enfrenta dificuldades devido às condições climáticas adversas, especialmente durante a época das chuvas. Em novembro de 2024, a ANE estimou que seriam necessários 180 milhões de meticais (cerca de 2,7 milhões de dólares) adicionais para a manutenção das estradas durante a época chuvosa 2024-2025. Este valor, no entanto, pode aumentar dependendo da intensidade das chuvas e dos alagamentos que afetam as vias. A cidade de Maputo, devido à sua topografia e ao crescimento urbano acelerado, enfrenta sérios problemas de drenagem e alagamento, que agravam ainda mais o estado das estradas.
De acordo com o delegado Dade Mendes, a ANE está a priorizar as secções mais críticas da rede viária, que frequentemente ficam intransitáveis devido às chuvas. A falta de uma infraestrutura de drenagem eficaz e o desgaste das vias existentes são desafios que, sem uma intervenção rápida e eficaz, podem continuar a prejudicar a mobilidade na cidade, especialmente em zonas mais periféricas.
Prolongamento da Situação Lastimável das Rodovias e Seus Efeitos Sociais
Este déficit orçamental de 700 milhões de meticais não só prolonga a situação lastimável das rodovias, mas também alimenta a crescente insatisfação popular em Maputo. A cidade, que concentra grande parte da população do país, enfrenta graves problemas de mobilidade, com constantes engarrafamentos, dificuldades de acesso e o aumento do tempo de deslocamento devido ao péssimo estado das estradas. Esse desconforto afeta não só o cidadão comum, mas também as empresas e o comércio, já que a ineficiência na mobilidade urbana pode gerar atrasos nos serviços e prejudicar a logística, impactando a economia local.
A população, especialmente os motoristas e transportadores, tem se manifestado contra o Governo e a ANE, que são vistos como incapazes de resolver o problema da infraestrutura rodoviária. A falta de investimentos em infraestruturas que permitam um tráfego fluido e seguro contribui para um sentimento generalizado de abandono por parte das autoridades. As manifestações populares, embora ainda pequenas, podem crescer à medida que a situação se agrava, gerando mais tensão social.
A Necessidade Urgente de Reverter o Cenário
Com o orçamento actual insuficiente para cobrir as necessidades de manutenção e reparação das estradas, a ANE está a enfrentar uma situação difícil, que poderá comprometer ainda mais a qualidade da infraestrutura rodoviária nas próximas décadas. A falta de recursos financeiros não é um problema isolado, mas parte de um desafio maior, que exige uma gestão mais eficaz dos fundos públicos e uma reavaliação das prioridades de investimento em infraestruturas no país.
É urgente que o governo procure formas de garantir o financiamento adequado para as obras de manutenção e modernização das vias, seja por meio de parcerias público-privadas, empréstimos internacionais ou pela realocação de recursos de outras áreas. Além disso, a participação ativa da sociedade civil e o debate público sobre as prioridades de infraestrutura podem ser cruciais para encontrar soluções viáveis e sustentáveis.
Em suma, a situação crítica das estradas em Maputo, prolongada pela falta de financiamento adequado, revela a necessidade urgente de uma abordagem estruturada e eficaz para a manutenção e melhoria das infraestruturas rodoviárias. O défice orçamental de 700 milhões de meticais não apenas agrava as condições das estradas, mas também alimenta o descontentamento popular e aumenta a tensão social num país que já enfrenta desafios econômicos e políticos. O governo e as autoridades competentes devem agir rapidamente para resolver essa crise e garantir que as condições de mobilidade e segurança sejam adequadas para todos os cidadãos.
Fonte: O Económico