Questões-Chave:
Países africanos falham em garantir acordos com os EUA antes do novo regime tarifário de Trump;
África do Sul enfrenta taxa média de 30% sobre as exportações, com sectores como automóvel e citrinos fortemente atingidos;
Lesoto, Ruanda e Essuatíni tentam negociar condições especiais, inclusive aceitando migrantes deportados pelos EUA;
Pequim aproveita o vácuo geopolítico, anunciando isenção de tarifas sobre importações africanas;
Acordos de substituição intra-africanos ganham relevância no contexto da ZCLCA.
Com o fracasso na obtenção de novos pactos comerciais com os Estados Unidos antes do prazo de 1 de Agosto, vários países africanos estão agora numa corrida contra o tempo para proteger exportações estratégicas, como chá, citrinos, têxteis e petróleo. A nova vaga de tarifas unilaterais impostas pela administração Trump ameaça fragilizar sectores inteiros e reacende o debate sobre a dependência africana dos mercados externos.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, lidera os esforços diplomáticos para mitigar o impacto das tarifas, tendo falado com Donald Trump a 6 de Agosto para tentar relançar as negociações. A África do Sul — que enfrenta agora uma tarifa média de 30% sobre as suas exportações para os EUA — está a activar missões comerciais, propor novos acordos e estudar medidas de apoio interno, particularmente aos sectores automóvel e citrícola, severamente afectados.
Pretória procura simultaneamente expandir as exportações para outros mercados africanos, numa tentativa de substituição parcial das perdas no comércio com os EUA — actualmente o segundo maior parceiro comercial da África do Sul, depois da China.
Impactos regionais: casos críticos
No Lesoto, as consequências são particularmente dramáticas. Embora a tarifa inicialmente anunciada de 50% tenha sido reduzida para 15%, o sector têxtil local já está em colapso, ameaçando milhares de postos de trabalho. O Governo do país, liderado pelo ministro Mokhethi Shelile, anunciou que irá solicitar a redução para 10%.
Outros países da região, como Ruanda, Essuatíni e Sudão do Sul, tentam negociar contrapartidas políticas, como aceitar migrantes deportados dos EUA em troca de tarifas reduzidas — um sinal do desequilíbrio nas relações bilaterais.
China posiciona-se como alternativa estratégica
Com o vácuo criado pela nova política tarifária norte-americana, Pequim move-se estrategicamente para consolidar a sua influência em África. O Governo chinês anunciou que eliminará os direitos aduaneiros sobre as importações provenientes de quase todos os países africanos, num gesto amplamente interpretado como tentativa de capturar espaço político e económico deixado pelos EUA.
Dinâmica geopolítica e oportunidade intra-africana
<
p dir=”ltr”>Esta nova configuração comercial acelera a urgência de acordos intra-africanos e da implementação efectiva da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA). Países como o Quénia e a Nigéria têm a oportunidade de usar o comércio regional como estratégia de mitigação, promovendo cadeias de valor africanas e reduzindo vulnerabilidades externas.
As tarifas de Trump colocam em risco a estabilidade de exportações essenciais para várias economias africanas, mas também abrem um momento crítico de redefinição estratégica. A capacidade de resposta coordenada — tanto ao nível diplomático como económico — determinará se esta será mais uma crise imposta ou uma janela para reequilibrar relações e fortalecer a integração africana.
Fonte: O Económico