Moçambique, país rico em diversidade cultural, com uma herança marcada por tradições orais, danças, rituais, línguas locais e respeito integracional. À medida que a sociedade avança rumo à modernização, os valores culturais enfrentam ameaças, muitas vezes silenciosas, mas profundamente sentidas nas comunidades.
Antigamente, a capulana era usada no dia-a-dia, em cerimónias tradicionais, no luto e oferecida como presente, hoje, ela é reservada apenas para eventos “culturais” ou pessoas mais velhas. Cada região tinha suas danças típicas transmitidas de geração em geração, como por exemplo: Marrabenta, Xigubo, Mapiko e Tufo, agora, há pouca ou nenhuma ligação com essas danças. Crianças cresciam a falar línguas locais como Xichangana, Bitonga, Sena, Macua, entre outras, mas nas zonas urbanas, muitas famílias optam por ensinar apenas português por considerarem as línguas locais “atrasadas”. Casamentos, funerais e iniciações eram realizados com rituais próprios da cultura local, todavia, a maioria desses rituais são substituídos por versões “modernas” perdendo o significado tradicional e espiritual. Histórias, contos e provérbios eram passados oralmente pelos mais velhos, reforçando valores como respeito, coragem e honestidade, porém, ultimamente, as crianças pouco escutam ou conhecem as histórias da sua cultura, estão mais ligadas à televisão e redes sociais (Tiktok). Face este cenário, percebe-se que nos últimos tempos, vivemos a era das “sociedades liberais” e dos avanços tecnológicos, com isso a sociedade moçambicana tende afastar-se das suas raízes culturais, priorizando estilos de vida ocidentais, negligenciando os valores que sustentam a própria cultura.
Felizmente, em algumas regiões, observa-se um movimento de resgate cultural. Festivais tradicionais, grupos de dança e a inclusão de temas culturais nas escolas têm despertado consciências, ainda que de forma tímida.
As crianças e os jovens não devem ser visto como agentes de perda, mas como guardiões do futuro cultural. A tecnologia, ao invés de inimiga, pode ser usada para criar pontes através de conteúdos digitais sobre histórias tradicionais.
Um olhar à lupa sobre os valores culturais é olhar para a alma do país. A cultura precisa ser revalorizada, não como algo do passado, mas como base para o futuro.