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Vodacom Supera 12 Milhões de Clientes em Moçambique, Mas Enfrenta Queda de 12,8% nas Receitas

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Questões-Chave

Num ano marcado por instabilidade política e intervenção regulatória, a Vodacom Moçambique registou um paradoxo económico: cresceu em número de clientes mas viu as suas receitas caírem drasticamente. Apesar de ultrapassar os 12 milhões de utilizadores activos, a operadora encerrou o exercício fiscal com um recuo de 12,8% nas receitas totais, agravando a erosão da receita média por utilizador (ARPU), agora em mínimos históricos.

Segundo o relatório financeiro da empresa para o ano fiscal terminado a 31 de Março de 2025, as receitas desceram de 23,2 mil milhões de meticais (US$ 347,8 milhões) para 20,6 mil milhões de meticais (US$ 309,3 milhões). Este recuo reflecte sobretudo os efeitos combinados de tensões pós-eleitorais e imposições regulatórias que obrigaram à reversão de aumentos tarifários, aplicados anteriormente pelos três operadores móveis nacionais.

A ARPU mensal (receita média por utilizador) caiu de 151 para 124 meticais (de US$ 2,27 para US$ 1,85), uma redução de 17,9%, sinalizando a crescente pressão sobre a rentabilidade unitária, mesmo com o aumento da base de clientes.

“Moçambique teve um ano desafiante, com uma quebra de receitas de 12,8% devido às reavaliações de preços e às tensões pós-eleitorais”, refere o relatório da Vodacom, citado pela Lusa.

Crescimento da base de clientes e contradições estruturais

Apesar da retracção financeira, a Vodacom registou um crescimento de 6,8% na sua base de utilizadores, atingindo 12,4 milhões de clientes em Março de 2025, face aos 11,6 milhões em 2024 e 10,7 milhões em 2023. Este desempenho traduz-se numa penetração crescente do serviço móvel, especialmente em zonas periurbanas e rurais, impulsionada por estratégias de inclusão digital e expansão de cobertura.

Contudo, o crescimento da base de clientes não tem sido suficiente para compensar as perdas de rendimento decorrentes da sensibilidade regulatória e da contestação pública às tarifas, sinalizando um modelo de negócio cada vez mais vulnerável ao contexto político e económico.

Impacto da regulação e do ambiente político

Em Maio de 2024, o governo moçambicano determinou, através do Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique (INCM), a suspensão dos aumentos de preços implementados pelos operadores móveis. A medida, ainda em vigor, foi justificada pela necessidade de proteger os consumidores num contexto de dificuldades económicas e inflação.

Para a Vodacom, a política tarifária imposta contribuiu para a degradação dos indicadores financeiros, embora a empresa reconheça que as reformas regulatórias em curso podem melhorar o ambiente de negócio a médio prazo.

Além disso, o relatório destaca que as tensões pós-eleitorais de Outubro de 2024 afectaram directamente a dinâmica comercial, travando a expansão e o apetite de consumo em vários segmentos.

Os Cenários 

Apesar dos desafios, a Vodacom mantém uma visão optimista para o ano fiscal de 2026, assente na expectativa de normalização política e revisão progressiva da abordagem regulatória. A empresa aposta na estabilidade e na inovação como vias para recuperar a rentabilidade e retomar uma trajectória de crescimento sustentável.

“Espera-se que o ímpeto dos esforços de paz melhore as perspectivas para o ano fiscal de 2026”, afirma o relatório.

Com mais de duas décadas de presença em Moçambique e uma participação de 85% detida pela Vodacom Internacional, a operadora continua a ser um actor-chave na infraestrutura digital do país, mas os seus resultados mostram que crescer em clientes já não basta — é necessário crescer com equilíbrio financeiro e estabilidade regulatória.

Fonte: O Económico

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