Por: Gentil Abel
Enquanto o mais recente relatório das Nações Unidas indica que a fome global apresenta sinais de declínio, Moçambique continua entre os países africanos onde o problema persiste de forma significativa.
Segundo o relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI 2025), publicado por cinco agências especializadas da ONU, cerca de 673 milhões de pessoas enfrentaram fome em 2024, representando 8,2% da população mundial. Embora o número mostre uma redução em relação a 2023 (8,5%) e 2022 (8,7%), a situação em África segue preocupante, uma vez que o continente concentra 60% dos casos de subalimentação projetados até ao final da década.
E em Moçambique, a insegurança alimentar mantém-se como uma realidade visível, agravada por fatores como mudanças climáticas, cheias, secas, deslocações forçadas e limitações na produção agrícola. Relatórios nacionais apontam que uma parte significativa da população continua em situação de vulnerabilidade, especialmente nas zonas rurais, onde o acesso a alimentos é mais precário.
Enquanto isso, o documento da ONU assinala, contudo, avanços importantes noutras regiões. Na Ásia meridional, a prevalência de subalimentação caiu de 7,9% em 2022 para 6,7% em 2024, e na América Latina e Caribe registou-se também um decréscimo, passando de 6,1% em 2020 para 5,1% em 2024. Um exemplo emblemático vem do Brasil, que foi recentemente retirado do Mapa da Fome da FAO, resultado de políticas públicas voltadas para o fortalecimento de programas de segurança alimentar, ampliação da rede de proteção social e apoio à agricultura familiar.
No entanto, para reverter o cenário em Moçambique e em grande parte de África, é necessário implementar políticas consistentes de combate à fome.
Pois, apesar da redução global, a fome continua a ser um desafio central para o desenvolvimento sustentável. E sem medidas coordenadas e de longo prazo, o país poderá continuar a enfrentar dificuldades em alcançar os objetivos de erradicação da fome estabelecidos na Agenda 2030 das Nações Unidas.