A passagem do ciclone tropical Jude pelo norte de Moçambique causou danos significativos na província de Nampula, deixando pelo menos cinco estradas e várias pontes destruídas, além de afectar milhares de pessoas e comprometer o funcionamento de serviços essenciais.
Danos na Infra-estrutura e Isolamento de Comunidades
O governador de Nampula, Eduardo Abdula, descreveu a situação como “caótica”, alertando para o isolamento de vários distritos devido à destruição de vias de acesso. “Temos distritos sem comunicação via terrestre, temos pontes (…) já cortadas e outras com situação de perigo”, afirmou.
A Administração Nacional de Estradas (ANE) confirmou que entre as infra-estruturas afectadas está a Estrada Nacional Número 1 (EN1), a principal via de ligação do país. Os troços de acesso aos distritos de Namialo, Malema, Lalaua, assim como as vilas de Namapa, Monapo, Quixaxe e Ribáuè, foram severamente danificados, registando-se desabamento de aquedutos, corte de aterros e colapso de algumas pontes.
Impacto Humano e Social
De acordo com as autoridades, a passagem do ciclone resultou na perda de seis vidas e causou ferimentos a pelo menos 20 pessoas. No total, 9.525 pessoas foram afectadas, correspondendo a 1.863 famílias. A tempestade destruiu parcial ou totalmente 1.899 casas, nove unidades de saúde, quatro casas de culto e um edifício público.
No sector da educação, o impacto foi igualmente severo, atingindo 17.401 alunos, 264 professores, 59 escolas e 181 salas de aula nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia.
Intensidade e Evolução do Ciclone
O ciclone Jude entrou no território moçambicano na madrugada de segunda-feira, 10 de Março, através do distrito de Mossuril, com ventos de 140 quilómetros por hora e rajadas que atingiram os 195 quilómetros por hora. Segundo o meteorologista Manuel Francisco, do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), o sistema enfraqueceu ligeiramente após a entrada em Moçambique, regressando ao estágio de tempestade tropical severa. No entanto, nos próximos dias, a tempestade pode continuar a variar entre os estágios moderado e severo, causando precipitações intensas de até 250 milímetros em 24 horas.
O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) alertou que o ciclone pode afectar um total de 341 mil pessoas. Foram activados comités operativos de emergência e estão em curso reuniões entre o Governo moçambicano e parceiros internacionais para coordenar os esforços de assistência.
Histórico de Ciclones e Vulnerabilidade Climática
Moçambique encontra-se na época chuvosa, que decorre entre Outubro e Abril. Nos últimos meses, o país já foi afectado pelos ciclones Chido e Dikeledi, que atingiram a região norte entre Dezembro de 2024 e Janeiro de 2025, causando impacto significativo nas províncias de Cabo Delgado e Nampula.
Eventos climáticos extremos têm sido recorrentes no país. Entre 2019 e 2023, ciclones e tempestades resultaram em pelo menos 1.016 mortes e afectaram cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Além das inundações e ciclones, Moçambique também enfrenta períodos de seca prolongada, sendo considerado um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas.
Com a intensificação dos eventos meteorológicos extremos, as autoridades e organizações humanitárias têm reforçado os apelos para um aumento na resiliência climática e na implementação de medidas preventivas que minimizem os impactos devastadores destes fenómenos sobre as comunidades e infra-estruturas do país.
Fonte: O Económico