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Fala–se de acidentes, mas resultados são poucos

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Os acidentes de viação continuam a ceifar vidas, jorrar sangue nas estradas, destruir infraestruturas e veículos, mas a mão para pôr ordem a isso continua pouco pesada.
Olhando para esta triste realidade, aponto como causas para isto os seguintes aspetos:

  1. Educação – Quando não se dá a devida importância à promoção de uma política de educação virada para fazer do homem o verdadeiro núcleo de todas as atividades políticas e sociais, o resultado é viver-se comportamentos não alinhados com condutas sociais aceitáveis.
    As escolas não cumpriram, nem têm estado a cumprir cabalmente a tarefa de construírem um homem novo. Um homem com bons conhecimentos técnicos e científicos, um homem com elevada conduta moldada em valores positivos de convivência social, um homem capaz de respeitar e cumprir as leis, normas e princípios éticos definidos na sociedade.
    Estes incumprimentos por parte das escolas levam a que as crianças de ontem, adultos de hoje, e as crianças de hoje, adultos do amanhã, se transformassem nos peões e automobilistas que usam hoje de forma deficiente as rodovias e provavelmente continuarão a fazê-lo também amanhã.
  2. Escolas de condução – Porque, na maioria dos casos, estas instituições priorizam mais a receção de valores monetários do que a devida qualidade dos condutores, a formação destes tem deixado muito a desejar. Soma-se a isto o comportamento dos instrutores e examinadores, que, vivendo no mundo da corrupção, preferem receber valores em troca de darem a correta formação para produzirem motoristas devidamente capacitados para usarem corretamente as vias rodoviárias. A fiscalização destas escolas por parte de quem de direito também tem-se tornado deficiente, o que proporciona a falta de qualidade das mesmas.
  3. Empresas de transporte de passageiros – Aqui, quer o Estado, bem como os Municípios, praticamente se afastaram desta responsabilidade de cariz eminentemente social, ao entregarem o peso maior desta atividade a entidades privadas, organizadas individualmente ou em cooperativas.
    Os donos destes transportes estão mais preocupados em colher dividendos financeiros do que em transportar pessoas. Assim, pouco fazem pelo estado físico e mecânico das viaturas, pouco fazem pelo cumprimento da lotação das mesmas, nada fazem para definirem horários de circulação e praticamente não se preocupam com a qualificação dos motoristas que conduzem as viaturas. Estes, em muitos casos, não estão devidamente encartados, principalmente com cartas que os habilitem a realizarem este tipo de atividade: o transporte público.
    Corre ainda a favor deles o facto de, na maioria dos acidentes em que estão envolvidos transportes de passageiros, os mesmos não serem responsabilizados.
  4. Polícia de Trânsito – Para as autoridades policiais, o trabalho de fazer cumprir e fiscalizar as regras de trânsito, infelizmente, não tem estado a surtir os resultados pretendidos.
    Alguns dos membros das corporações policiais, porque também estão embebidos na corrupção, veem como maior objetivo de estarem na estrada a busca de dinheiro, e não o nobre trabalho de fiscalizar e fazer cumprir as regras de trânsito.
    É assim que os motoristas de transportes urbanos e interurbanos de passageiros, sem as devidas cartas de condução, com viaturas acima da lotação e em más condições para circularem, passam por estes a seu belo prazer porque normalmente deixam em suas mãos, diariamente, valores monetários.
    Para os restantes motoristas, a conversa que normalmente se realiza após mandarem estes pararem termina, em muitos casos, por pagamento monetário e não na emissão da devida multa por transgressões cometidas.
  5. Estado e condições das rodovias – As viaturas foram fabricadas para circularem em determinadas condições para sua segurança e durabilidade. Contudo, a realidade manda dizer que, em grande medida, as rodovias do país apresentam deficiência, ora de construção, ora de manutenção, ora de sinalização vertical ou horizontal — enfim, aspetos que, de uma ou outra forma, podem pesar na existência de sinistros rodoviários.

Posto isto, facilmente se pode entender que, se os aspetos aqui identificados e outros não forem tomados a peito com a devida frontalidade, transparência, estudos e busca de soluções de profundidade que apresentem consistência e continuidade, este triste espetáculo de sangue e destruição nas estradas do país continuará a inundar os órgãos de informação diariamente.

Naimito Marina.

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