«Fiz golo pelo Tirsense ao Benfica e Eriksson deu-me os parabéns»

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«São momentos que ficam na memória, sobretudo na minha primeira época de Tirsense. No jogo que nós fizemos em casa, empatámos 1-1 com o Benfica. Tinham Silvino, Valdo, Aldair… e nesse ano fiz o 1-0 e o César Brito, já no fim, empatou o jogo, num Abel Alves Figueiredo completamente cheio.»

Mais de 29 anos depois, Tirsense e Benfica voltam a encontrar-se. É semana de Taça de Portugal, numa quarta-feira que marcará o 23.º jogo na história entre os dois clubes. Para trás estão 20 vitórias do Benfica, a primeira em 1959 e a última em 1996. Pelo meio, entre 16 jogos de campeonato e seis na “prova rainha”, o Tirsense contrariou a superioridade encarnada em dois jogos da I Divisão, em Santo Tirso: o primeiro em 1967/68 (0-0) e o último em 1989/90 (1-1).

No último jogo que o Tirsense não saiu derrotado pelo Benfica estava Sérgio Abreu. O antigo defesa central, hoje com 57 anos, foi o autor do golo desse empate em Santo Tirso, na época de regresso do clube à I Divisão ao fim de 17 anos e que culminou com o 9.º lugar, a segunda melhor classificação de sempre entre as oito épocas no principal escalão.

O golo? Não se esquece. «Lembro-me bem. O Quim, que jogou no FC Porto e foi campeão europeu, marcou o canto. Só estávamos três na grande área, porque com o professor Neca… era preferível um ponto na mão, do que dois a voar. Eu ganhei a bola ao Aldair ao primeiro poste, de cabeça, e a bola entrou na baliza. Foi um bom golo», lembra Sérgio Abreu, ao Maisfutebol.

No fim do jogo, ficou para a história o empate e também uma interação com Sven-Göran Eriksson, então treinador do Benfica. «Na altura não havia tantos jogos na televisão e só passavam três ou quatro minutos no Domingo Desportivo. E por acaso, ao fim do jogo, como tinha feito golo, pediram-me para falar. Eu estava a falar, passou o Eriksson para a flash interview, bateu-me nas costas e num português já completo disse: “Parabéns miúdo, bom golo e continua assim”. Foi uma coisa que me ficou marcada. Depois, a carreira que ele fez… um enorme treinador. E para um miúdo que tinha chegado há dois anos à I Divisão, era sempre bom ouvir isso», recorda.

O antigo jogador, que fez depois oito épocas no Sporting de Braga na década de 90, além de passagens por Fafe, Santa Clara, Desp. Chaves, Leixões, Felgueiras e Lixa, «não sabia» que tinha protagonizado um dos dois jogos não perdidos pelo Tirsense ante o Benfica, mas assume que «é bom recordar esses momentos». E o que fica dessa época é, também, uma vitória por 2-0 que fez o FC Porto cair nos oitavos de final da Taça de Portugal, em pleno Estádio das Antas. Uma edição atípica, em que Sporting e Benfica nem a essa fase chegaram (eliminados antes por Marítimo e V. Setúbal, respetivamente) e que seria ganha pelo Estrela da Amadora (carrasco dos jesuítas nos quartos de final) ao Farense.

E, mais ainda, numa época em que o Tirsense já tinha sido goleado nas Antas. «Depois de termos levado 7-0 no campeonato, fomos lá ganhar em dia de Carnaval por 2-0 e o Artur Jorge teve de sair no carro particular do Pinto da Costa na altura. Eu joguei a lateral-direito, apanhava o Bandeirinha, o João Pinto e companhia. Aquilo foi mesmo uma coisa…», recorda Sérgio, que na época seguinte estaria na dramática descida do Tirsense, 16.º classificado, com os mesmos pontos de quatro equipas que se salvaram e a apenas… três pontos do 5.º lugar do Salgueiros, que foi à Taça UEFA.

«O primeiro ano de Tirsense foi excelente, uma equipa sem grandes nomes e ficámos em 9.º lugar. Éramos dados como uma equipa para descer e mantivemo-nos. No segundo ano, a quatro jogos do fim estávamos quase para chegar à Europa, mas depois só fizemos um ponto e descemos. Descemos por causa da diferença de golos entre equipas», conta.

Irmãos do futebol, Sp. Braga, Leixões e a camisola de Lehmann

O futebol esteve no sangue da família Abreu. Além de Sérgio – e tal como o pai – os seus quatro irmãos também jogaram futebol: Manuel, Armando, Zeca e Berto. Com mais notoriedade o primeiro, falecido em 2022, que esteve quase 50 anos ligado ao futebol desde a formação como jogador até treinador. Representou o Stade de Reims, o PSG, o Nancy e, por cá, o Sp. Braga em 1986/87.

Sérgio foi a duas finais de Taça de Portugal, uma pelo Sp. Braga em 1998 (perdida para o FC Porto) e a da célebre campanha do Leixões, que em 2002 foi o primeiro clube da terceira divisão a ir à final, apurando-se para a Taça UEFA da época seguinte. Braga e Matosinhos permitiram-lhe palcos europeus. «São as melhores memórias que guardamos. Ainda hoje temos o recorde de uma equipa – que o Tirsense possa bater e ser uma equipa da quarta divisão atual a chegar à final – que era da II B [ndr: hoje equivale à Liga 3] chegar a uma final», afirma.

Das competições europeias, mas pelo Braga, guarda com carinho uma recordação. Ou melhor, guarda-a o irmão. Uma camisola do alemão Jens Lehmann, depois do Schalke 04-Sp. Braga jogado em 1997. «É uma coisa gira porque ele ficou a olhar para mim e diz: “queres uma camisola de guarda-redes?”. Porque na altura ninguém trocava com guarda-redes. Só que como eu tinha um irmão que foi guarda-redes, eu troquei porque queria oferecer-lhe uma camisola e o meu irmão ainda hoje a tem. O Lehmann depois, viria a ser o guarda-redes que foi», nota.

«Tirsense-Benfica? Se fosse só um jogo…»

Sérgio crê que a tarefa do Tirsense é difícil, sobretudo por ser uma meia-final a dois jogos. E dá o exemplo da meia-final ganha pelo Leixões em Braga, em jogo único, no Estádio 1.º de Maio, em 2001. «Se o Tirsense-Benfica fosse só num jogo, tudo podia acontecer. Mesmo em campo neutro… num jogo pode. Por exemplo, quando fomos à final pelo Leixões, só havia um jogo. Sim, era em Braga, mas entrámos bem, tivemos sorte em alguns lances, o Barroso manda uma bola ao poste, o Abílio faz o 1-0, o Nené o 2-0 e o Detinho o 3-1… aquilo foi um mundo. Em meias-finais a dois jogos, as equipas ditas maiores têm mais facilidade, mesmo tendo um percalço no primeiro jogo. Mas não deixa de ser um enorme feito do Tirsense, uma equipa da quarta divisão nas meias-finais», remata.

Fonte: CNN Portugal

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