O enviado especial das Nações Unidas para o Iêmen, Hans Grundberg, declarou que a crise “não pode ser vista de forma isolada”, descrevendo o país como “espelho e amplificador da volatilidade regional”.
Fome atinge níveis recordes
Já o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, alertou que o Iêmen é hoje o terceiro país mais inseguro em termos alimentares do mundo.
Cerca de 17 milhões de pessoas já lutam para se alimentar e mais 1 milhão poderá enfrentar fome extrema até fevereiro do próximo ano.
Fletcher declarou que 70% dos lares não têm comida suficiente para satisfazer as necessidades diárias, percentagem esta a mais alta alguma vez registrada.
Um em cada cinco agregados familiares passa um dia inteiro sem qualquer alimento, enquanto dois milhões de mulheres e meninas perderam acesso a serviços de saúde reprodutiva devido à falta de financiamento.
Conflito em espiral
O enviado especial da ONU sublinhou os confrontos em Al Dhale’, Ma’rib e Taiz, bem como ataques contra civis e infraestruturas críticas, que aumentam o risco de um regresso ao conflito em grande escala.
Referindo-se ainda ao pano de fundo da guerra em Gaza, Grundberg apontou “uma intensificação alarmante e perigosa dos confrontos entre Ansar Allah, como são conhecidas as forças Houthis, e Israel”, com vítimas civis e alvos estratégicos atingidos.
O representante afirmou ainda que este ciclo de escalada deve terminar e que que é necessário “devolver o foco ao Iêmen, tanto aos seus desafios internos como ao desbloqueio do seu enorme potencial.”
Trabalhadores humanitários em risco
Apesar dos constrangimentos, a ajuda continua a chegar a dezenas de milhares de pessoas em Hajjah, Amran e Ma’rib, incluindo alimentos, água, abrigo e serviços de nutrição. Mais de 172 mil pessoas afetadas por inundações receberam kits de higiene e apoio emergencial.
No entanto, Fletcher explicou que as operações estão gravemente comprometidas por ataques, destruição de infraestruturas e detenções arbitrárias de trabalhadores humanitários.
Vinte e dois funcionários da ONU foram detidos recentemente pelo grupo Ansar Allah. Um foi libertado, mas mais de 40 permanecem em cativeiro, incluindo um colaborador que morreu sob custódia.
Apelando à libertação imediata de todos os detidos, Fletcher sublinhou que reter trabalhadores humanitários não ajuda o povo do Iêmen, não alimenta os famintos, não cura os doentes, nem protege os deslocados pelas cheias ou pelo conflito.
Urgência de diálogo
Ambos os responsáveis insistiram na necessidade de um cessar-fogo e de um processo político inclusivo. Grundberg exortou as lideranças iemenitas a abandonarem medidas unilaterais e a avançarem para reformas económicas e diálogo nacional.
Fletcher reiterou que a ajuda humanitária deve chegar a todos, sem entraves, pois o povo do Iêmen merece um futuro de maior segurança, justiça e oportunidade.
Fonte: ONU