O Governo moçambicano reconheceu a necessidade de implementar reformas estruturais para responder às crescentes pressões sociais e garantir melhores condições de vida aos cidadãos. A declaração foi feita pelo coordenador executivo do Gabinete de Coordenação de Reformas e Projetos Estratégicos, João Machatine, na sua cerimónia de posse, no dia 10 de Fevereiro.
Machatine defendeu que as mudanças são essenciais para adaptar o país às novas dinâmicas sociais e económicas, promovendo um ambiente mais favorável ao investimento e ao desenvolvimento.
“Basta ver as próprias manifestações. Está claro que é importante irmos ao encontro das novas realidades. Temos que introduzir reformas para ajustarmo-nos a estas pressões sociais, para que as pessoas possam viver com dignidade”, afirmou o responsável.
Entre as áreas prioritárias, Machatine destacou a necessidade de renegociar contratos de megaprojectos, assegurando que os recursos naturais e minerais do país possam contribuir de forma mais significativa para o desenvolvimento nacional.
“Queremos fazer de Moçambique um espaço aprazível para se investir e, com base nesses investimentos, alcançar a almejada independência económica”, explicou.
O responsável indicou ainda que o programa de reformas não se limitará aos grandes investimentos, mas abrangerá aspectos do quotidiano da população, como a melhoria da acessibilidade aos serviços básicos, incluindo pagamento de água, emissão de bilhetes de identidade e questões burocráticas que impactam diretamente a vida dos cidadãos.
As declarações surgem num contexto de crescente agitação social, iniciada em Outubro de 2024, após as eleições gerais. Os protestos, inicialmente liderados pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, evoluíram para manifestações mais amplas, denunciando o aumento do custo de vida, o desemprego e outras dificuldades sociais.
De acordo com a plataforma Decide, organização não-governamental que acompanha processos eleitorais, os protestos já resultaram em 327 mortes e cerca de 750 feridos, incluindo várias vítimas menores.
No acto de posse de Machatine, o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, reforçou a necessidade de acções concretas e parcerias estratégicas para acelerar o crescimento económico.
“Precisamos de mudar a actual realidade, arraigada na herança colonial, em que a nossa economia continua centrada na exportação de matérias-primas e nos corredores logísticos”, afirmou Chapo.
O Chefe de Estado defendeu que o Gabinete de Coordenação de Reformas e Projetos Estratégicos seja um catalisador de mudanças profundas, garantindo que as reformas avancem em áreas estratégicas para transformar a economia e melhorar as condições de vida da população.
O reconhecimento oficial da necessidade de reformas surge num momento crítico para Moçambique, marcado por tensões sociais e desafios económicos. A implementação das mudanças propostas poderá definir o rumo do país nos próximos anos, tanto na relação com investidores como na resposta às reivindicações da população.
O sucesso das reformas dependerá da capacidade do Governo em concretizar mudanças eficazes, garantindo um equilíbrio entre crescimento económico e justiça social.
Fonte: O Económico