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Ilídio Caifaz considera que Moçambique caiu na posição real e deve formar treinadores para acompanhar tendência moderna

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O antigo presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol e antigo internacional moçambicano, Ilídio Caifaz, foi uma das figuras convidadas pela FIBA-África para acompanhar in-loco a 29ª edição do Campeonato Africano de Basquetebol Sénior Feminino, decorrido de 26 de Julho a 3 de Agosto, em Abidjan, na Costa do Marfim. O também comentador da bola-ao-cesto para vários canais nacionais, acompanhou a prestação de Moçambique e considerou que o sexto lugar reflecte a realidade da modalidade no país que está atrasado no acompanhamento das prágticas modernas que se assistem no continente e no mundo. Para acompanhar as novas tendências, Caifaz sugere a formação dos treinadores, não descurando o reforço da selecção nacional com a integração de jogadoras americanas naturalizadas.

 

Por Alfredo Júnior, em Abidjan

 

Depois da prestação com a qual não se cumpriu o objectivo traçado pelas Guerreiras do Índico em Abidjan, o LanceMZ entrevistou a Ilídio Caifaz que deixa ficar nas linhas que se seguem a sua análise sobre a presença no AfroBasket 2025 e sugere saídas para a melhoria da qualidade da bola-ao-cesto praticada pela equipa de todos nós.

 

LANCEMZ – Qual é a análise que faz desta prestação da Seleção Nacional de Basquetebol no AfroBasket 2025?

 

ILÍDIO CAIFAZ – Bom, primeiro que tudo as meninas estão de parabéns pelos esforços que fizeram, tendo em conta o seguinte contexto: Nós não conseguimos ser apurados de imediato na fase de qualificação, fomos repescados. Portanto, é uma equipa que não estava na lista das 12, foi repescada. Chegamos aqui, depois do trabalho árduo que foi feito, estágio em Portugal, nós conseguimos ter uma equipa que tem processos defensivos muito agressivos, muito fortes e processos ofensivos também bastante eficientes, com clareza, que joga acima dos 18 segundos. Todos os processos ofensivos de Moçambique são duradouros, são longos. Não há mais ataques de 4, 5 segundos. Para mim isso é sinal de organização táctica muito interessante. E depois, este sexto lugar, digamos que iguala aquilo que tem acontecido nos últimos anos. Nós temos estado, em termos de qualidade e o nível do nosso trabalho (7:19) em geral no basquetebol, no sexto lugar.

 

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L – Nas últimas duas edições terminamos em quinto e agora em sexto. Como sair desses lugares e voltar ao topo do basquetebol africano?

 

IC – Nós não estamos a conseguir sair deste quinto, sexto lugar. E temos que, a partir de algum certo momento, agora que saímos e estamos de volta para casa, começar a pensar nas fórmulas de mudança, de modelo táctico, no modelo físico, etc para a gente voltar a ombrear a outro nível com as equipas de escalão de quinto para cima. O sexto posto é o lugar real. Se olharmos, para uma análise mais profunda de basquetebol, e tenho que olhar de uma forma fria e objetiva. Olhando desse prisma, é o lugar certo para Moçambique. Podíamos ter ficado em quinto lugar, sim senhor. Mas, mais do que isso, não seria de facto uma verdade desportiva pura. Nesse sentido, eu estou satisfeito com a posição de Moçambique com os sinais que estas atletas deixam para o futuro. Que deixam matérias muito interessantes para nós melhorarmos os processos lá em casa. Não me desagrada sair daqui com o sexto lugar. Agradava-me sair com a melhor posição. 

 

CLASSIFICAÇÃO QUE REFLECTE QUALIDADE DO QUE É PRATICADO NO PAÍS

 

L- Quer dizer que este lugar é reflexo daquilo que é a realidade do basquetebol moçambicano?

 

IL- Sem dúvida, sem dúvida. Nós temos uma prova nacional com duas equipas. O Ferroviário de Maputo e o Costa de Sol. E por aí a gente já sabe que termina por aí. E depois temos o reforço das meninas que vão para os Estados Unidos e agora começam a vir dar o seu contributo. Tivemos aqui, nesta equipa, pelo menos cinco jogadoras que já fizeram a trajetória dos Estados Unidos. Penso que reflete a quantidade de equipas que temos no país. A qualidade dos processos que é possível só com duas equipas.

 

L – Análise daquilo que foi neste AfroBasket, já fizemos. Da realidade do basquetebol moçambicano também. O que importa agora é saber como Moçambique deve dar os passos para sair desta situação e regressar ao que já fez anteriormente que é chegar ao pódio?

 

IC – Moçambique é um país, hoje eu vou insistir nesta tecla que parece uma coisa, um disco riscado, é um país sem infraestrutura desportiva de alta competição a nível internacional para basquetebol. Não vamos escamotear. Alguém tem que se preocupar com isso. Nós estamos aqui numa arena que foi completamente reabilitada para efeitos de acolhimento desta prova. Mas é um país que tem outras alternativas. Nós não temos alternativas. Aqueles que nos acompanham, veem basquetebol e pensam que o pavilhão do Maxaquene tem condições para acolher provas internacionais, estão enganados, pois já não tem. Temos que começar a ver isso de um lado. Mas, essa é uma conversa que eu vou fazer todos os dias até que alguém me bata. Outra coisa é a nível técnico. Nós vimos aqui uma mutação, mutação é uma palavra muito forte, (10:09) uma mudança de tendência do basquetebol. Não há penetrações com dois passos para o cesto, penetrações com paragem no interior do garrafão e cesto. Todas as equipas estão a ser especialistas em ter jogadoras com um tiro exterior muito forte e com penetração com paragem à chegada do cesto, que lhes dá a possibilidade de escolher para a esquerda, para a direita, para trás ou passe para fora. Nós ainda continuamos, quando nos embalamos para o cesto, já nem pensámos, já estamos a caminhar com dois passos previsíveis que, perante equipas maiores, em termos a velocidade maior que as outras, levamos muitos tampões e acabamos falhando muito debaixo do cesto.

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FORMAÇÃO DE TREINADORES MOÇAMBICANOS É URGENTE

 

L – Para se acompanhar essa tendência moderna do basquetebol é necessário que os treinadores moçambicanos estejam actualizados. . .

 

IC – Para mim, essa tendência técnica que está a vislumbrar-se no basquetebol africano e no mundo, é uma coisa pequena, mas que tem que ser tida em consideração. Se pressupõe que os treinadores moçambicanos devem atualizar-se para acompanhar a dinâmica que está a acontecer ao nível do mundo. Felizmente, nós temos em Moçambique muitos treinadores e bons treinadores. A única coisa que critico nos treinadores é alguma incapacidade de adaptar-se rapidamente aos novos contextos, às novas tendências. Há uma tendência para os treinadores trabalhar com os pressupostos a partir dos quais eles foram treinados como jogadores. Hoje em dia, há mais ciência no basquetebol e quem faz ‘scouting’ desses jogos vai descobrir elementos técnicos que podem ser aproveitados de outra maneira e levar os nossos treinadores a melhorarem, evoluírem tecnicamente e taticamente em relação àquilo que a gente precisa nos próximos dois anos.

 

L – Como os treinadores vão actualizar-se se no país escasseiam acções de formação do mais alto nível?

 

IC – Acredito que com a passagem em directo desses jogos pela televisão, pelo menos os jogos de Moçambique, se os treinadores estiveram atentos, pode ser que isso ajude a mudar um bocadinho a visão sobre como uma equipa menor, menos possante fisicamente, pode suplantar equipas mais fortes com processos ofensivos mais atualizados.  Mas, é importante quem direito promova acções de formação e capacitação dos nossos treinadores para acompanharem a tendência actual.

 

A NATURALIZAÇÃO PODER SER O CAMINHO, MAS. . .

 

L – Há um debate que se faz e que dá conta que para reforçar a seleção em determinadas posições com as jogadoras de outro patamar, de outro quadrante, aponta-se naturalização de americanas e também da recolha de base de dados de jogadoras moçambicanas que actuam no estrangeiro. Como é que olha para esse debate? Será que nós precisamos de facto de naturalizar jogadoras tal e qual está a acontecer nos outros países?

 

IC – Sim. Sem dúvida, nós precisamos trazer jogadoras que oferecem outro tipo de aportes, que tiveram outro tipo de escola e que venham a reforçar efetivamente aquilo em que nós temos mais dificuldades. Mas, temos exemplos de países como a Costa Marfim, que acolheu a prova, naturalizou uma jogadora que é muito boa, mas isso não foi suficiente. Para mim, naturalizar é apenas mais um dos elementos que é preciso ter em conta, não é o elemento essencial. O mais importante é que nós, no nosso processo técnico interno, na nossa competição interna, no nosso processo de treinamento, nos nossos clubes, nós tenhamos pressupostos técnicos modernos e de futuro, sabemos o que vêm aí e a tendência já está clara. Há muitos bons scouters que nos podem dizer como é que as equipas estão a jogar hoje, que estão a ter melhores resultados do que nós estamos a ter. Portanto, acho que naturalização sim, procurar talentos lá fora sim, mas se isso não for acompanhado por um trabalho interno de melhoria da qualidade interna, através da formação de treinadores de outro nível. Acho que temos que ter um programa em que trazemos vários treinadores para os clubes e oferecer aos clubes um programa sério em que trazemos treinadores que vêm aqui por um período de dois anos e estes treinadores traçam com os treinadores nacionais um perfil de jogo ofensivo e defensivo de Moçambique em função do fenótipo e características específicas do moçambicano e esses trabalham diretamente nos clubes desde os iniciados até aos seniores  em dois, três anos nós mudamos o perfil para aquelas tendências que já se vislumbram. Portanto, mais do que naturalizar ou ir buscar moçambicanos na diáspora, o trabalho interno para mim é o fundamental. (LANCEMZ)

Fonte: Lance

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