A Importadora Moçambicana de Petróleos (IMOPETRO) anunciou recentemente o lançamento de um concurso internacional para a contratação de fornecedores de combustíveis refinados, numa medida estratégica para garantir o abastecimento contínuo e estável de produtos petrolíferos em Moçambique. Esta iniciativa ocorre num contexto de crescente demanda interna e volatilidade dos mercados globais, factores que impactam directamente a economia do País.
Dados recentes revelam a dimensão económica deste sector em Moçambique. Em 2022, o país despendeu cerca de 2 mil milhões de dólares norte-americanos na importação de 1,8 milhões de toneladas métricas (TM) de combustíveis refinados, um acréscimo significativo face aos 936,6 milhões de dólares gastos em 2021 para 1,5 milhões de TM. Este aumento foi impulsionado, sobretudo, pela subida dos preços do petróleo no mercado internacional, reflexo da retoma económica pós-COVID-19 e das perturbações causadas pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia. João Macanja, Director-Geral da IMOPETRO, destacou que “a partir de Novembro de 2021 até Outubro de 2022, o preço do petróleo esteve em alta, influenciado pela retoma das economias e pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.”
O concurso prevê a importação de 575 mil TM de produtos petrolíferos refinados, distribuídos da seguinte forma:
Estes produtos serão descarregados nos portos de Maputo, Beira, Nacala e Pemba, assegurando a cobertura das necessidades energéticas em todo o território nacional. Miceles Miambo, chefe do Departamento de Mercado na IMOPETRO, afirmou que “as quantidades previstas no novo concurso de importação irão assegurar a disponibilidade do recurso no mercado a partir de Março”. A data limite para a apresentação de propostas foi definida para os próximos 30 dias, e a selecção basear-se-á em critérios rigorosos, que incluem capacidade de fornecimento, eficiência logística e competitividade dos preços.
Do ponto de vista económico, esta acção é crucial para assegurar a estabilidade de sectores fundamentais, como os transportes, a agricultura e a indústria. O Ministério da Indústria e Comércio sublinhou que a volatilidade nos preços dos combustíveis tem sido uma das principais causas do aumento do custo de vida em Moçambique. Silvino Moreno, ministro da pasta, reforçou que “a estabilidade no fornecimento de combustíveis é fundamental para garantir a competitividade da nossa economia e a sustentabilidade dos negócios locais.”
A crescente factura de importação de combustíveis representa, contudo, um desafio significativo para a balança comercial e as reservas cambiais do país. Entre os esforços para mitigar estes impactos, a IMOPETRO tem adoptado estratégias como a centralização das importações e a diversificação de fornecedores. Esta abordagem permite uma melhor negociação de preços e condições, beneficiando o mercado interno. Raul Santos, Director Executivo da IMOPETRO, enfatizou que “a nossa prioridade é assegurar que o país tenha um fornecimento contínuo de combustíveis, mesmo em cenários adversos, como os que vivemos recentemente com as perturbações nos mercados globais.”
Especialistas do sector energético destacam ainda a importância de assegurar transparência no processo de contratação, para que os contratos firmados sejam resilientes às flutuações do mercado internacional. O economista Victor Mapossa afirmou que “este concurso é uma oportunidade para Moçambique reforçar as suas relações comerciais com parceiros estratégicos e assegurar melhores condições de fornecimento no futuro.”
Nos últimos anos, as flutuações no preço do petróleo internacional têm imposto desafios à economia moçambicana. Por exemplo, em 2019, o país gastou aproximadamente 890,9 milhões de dólares para importar 1,449 milhões de TM de combustíveis líquidos. Estas variações na factura de importação sublinham a vulnerabilidade de Moçambique às dinâmicas do mercado energético global e reforçam a necessidade de uma abordagem estratégica na gestão de combustíveis.
Além disso, as previsões para os próximos anos indicam que os preços dos combustíveis poderão continuar a ser influenciados por factores geopolíticos e económicos globais. João Macanja salientou que, para 2023, “as previsões indicavam que o preço vai subir. Mas nunca se sabe ao certo o que acontece com o petróleo, há muitos factores que jogam o seu papel.” Este nível de incerteza torna ainda mais premente a necessidade de contratos robustos e de uma monitorização contínua do mercado.
Agostinho Vuma, Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), destacou que “medidas como esta são essenciais para estabilizar o ambiente empresarial e criar um cenário favorável ao investimento.” A expectativa é de que, com a adjudicação de contratos sólidos, o País consiga minimizar os riscos de escassez de combustíveis e mitigar os impactos de choques externos no mercado petrolífero.
Neste contexto, o concurso internacional da IMOPETRO representa um passo estratégico para reforçar a segurança energética de Moçambique e mitigar os efeitos das variações globais no preço do petróleo. A eficácia desta iniciativa dependerá, contudo, da capacidade de adaptação às dinâmicas do mercado internacional e da implementação de políticas internas que promovam a sustentabilidade económica e energética do país.
Fonte: O Económico