Jeffrey Sachs alerta: nova política comercial dos EUA pode ser “catastrófica” para países exportadores

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O economista norte-americano Jeffrey D. Sachs lança um sério alerta à comunidade internacional: a política comercial actualmente promovida pelos Estados Unidos, sobretudo sob a liderança de Donald Trump e do Partido Republicano, poderá ter efeitos “catastróficos” sobre os países em desenvolvimento cuja economia depende essencialmente das exportações. Com novas tarifas globais e medidas unilaterais, Sachs afirma que os EUA estão a pôr em risco décadas de progresso económico do Sul Global, em especial das economias emergentes que dependem do acesso livre e previsível ao mercado americano.

Num artigo publicado no The Guardian, Sachs começa por contextualizar o cenário que se desenha: uma possível nova presidência de Donald Trump em 2025, com apoio de congressistas republicanos que “já defendem publicamente tarifas de 10% sobre todas as importações” e “60% sobre importações provenientes da China”. O objectivo, segundo os proponentes, seria “trazer de volta empregos industriais para os EUA” — uma narrativa que, para Sachs, ignora por completo as consequências internacionais dessas decisões.

“Trump e os seus aliados planeiam uma ruptura radical com o comércio global baseado em regras. Isso será desastroso para países pobres cuja única rota plausível para o desenvolvimento passa pelas exportações competitivas,” escreve Sachs.

O autor recorda que, para a maioria dos países do Sul Global, as exportações não são apenas uma estratégia comercial, mas o próprio alicerce do desenvolvimento económico, sendo a principal fonte de geração de emprego, captação de investimento externo, aquisição de divisas e crescimento do PIB.

Países como Vietname, Bangladesh, Etiópia, Quénia, Índia e Tailândia emergiram nas últimas décadas como economias de industrialização tardia precisamente por se integrarem nas cadeias globais de fornecimento — muitas vezes orientadas para o mercado norte-americano. Segundo Sachs, “a imposição unilateral de tarifas pelos EUA asfixia estas economias, exactamente como aconteceu com as sanções contra a Venezuela e o Irão”.

“As consequências serão devastadoras, comparáveis ou mesmo piores do que o colapso da ajuda ao desenvolvimento,” alerta o autor.

Jeffrey Sachs argumenta que, enquanto os EUA possuem uma baixa exposição ao comércio internacional — cerca de 25% do PIB —, as economias do Sul Global dependem fortemente das exportações. A imposição de tarifas generalizadas poderá não abalar profundamente os consumidores norte-americanos, mas arrasará sectores produtivos inteiros em países de baixo e médio rendimento.

O autor critica ainda a erosão do sistema multilateral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que “deveria limitar este tipo de comportamentos unilaterais, mas foi sistematicamente deslegitimado e paralisado pelos próprios EUA.” O vazio institucional resultante permite que novas políticas proteccionistas avancem sem contenção legal.

Para Sachs, a política comercial de Trump não visa proteger trabalhadores norte-americanos, mas sim servir os interesses de grupos industriais específicos e promover uma narrativa nacionalista que exclui o resto do mundo. O impacto sobre a cooperação global, afirma, “poderá ser equivalente ao da saída dos EUA do Acordo de Paris, multiplicado por dez.”

Além disso, o economista defende que a ajuda pública ao desenvolvimento (ODA), frequentemente destacada como instrumento crucial, não substitui nem compensa os efeitos de uma política comercial destrutiva. “Cortar o acesso a mercados é muito mais destrutivo do que cortar o financiamento da USAID”, sublinha.

“Se os EUA optarem por bloquear o crescimento exportador das economias pobres, estarão a condenar milhões à estagnação, à pobreza e ao colapso das aspirações de desenvolvimento sustentável.”

O artigo de Jeffrey Sachs é mais do que uma análise técnica — é um alerta ético, político e económico. Ao denunciar as implicações globais da política comercial norte-americana, o autor apela à defesa do multilateralismo, da cooperação económica e do respeito pelas trajectórias de desenvolvimento dos países mais vulneráveis.

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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>A posição dos EUA, segundo Sachs, deve ser combatida não apenas por argumentos comerciais, mas também por uma narrativa internacional que coloque a justiça económica e a interdependência no centro das decisões globais.

Fonte: O Económico

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