Início Desporto «Leonardo Jardim estava na Argentina com Luís Campos quando reparámos no Mbappé»

«Leonardo Jardim estava na Argentina com Luís Campos quando reparámos no Mbappé»

0

Licenciado em Educação Física pela Universidade do Porto, trabalhou durante 16 anos ao lado de Leonardo Jardim. Foi do Desp. Chaves ao Mónaco, passou pelo Beira-Mar, Sp. Braga e Olympiakos, esteve no Sporting e teve as últimas experiências no Al-Hilal, Al-Ahli e Al-Rayyan.

Fez, por isso, parte da conquista da Liga dos Campeões Asiática em 2021 e dos campeonatos da Grécia, França, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Trabalhou de perto com estrelas como Mbappé ou Bernardo Silva, Falcão ou Fabinho, até com nomes grandes como Ruben Amorim e Nuno Gomes. Agora, aos 41 anos, assume o desejo de se tornar treinador principal.

Nesta terceira parte da entrevista ao Maisfutebol, Miguel Moita aborda o tempo passado no principado do Mónaco, e conta histórias inéditas dos jogadores que orientou. No primeiro treino de Mbappé com a equipa principal do Mónaco, por exemplo, quando maravilhou todos os adjuntos, Leonardo Jardim nem estava presente.

————————————————————

O meu trabalho focava-se essencialmente na análise e na observação, em termos de dinâmicas e modelos de jogo. Nesse sentido, apesar de ver este tipo de jogadores como quaisquer outros, notava que estavam num patamar acima a nível desportivo. Depois o resto tem tudo a ver com a convivência. O João Moutinho era de muito bom trato, facilmente tinhas uma conversa com ele, convidava muitas vezes para ir a casa. O Bernardo Silva a mesma coisa. Muito simples, não ligava muito a carros, gostava muito de ler e estava num apartamento super regular lá no Mónaco. Por outro lado, o Berbatov já estava mais no final de carreira, era mais fechado e não conseguias falar tanto com ele. Já o Falcão tinha algo que nunca mais vi em nenhum jogador: no final dos treinos pedia sempre para organizarmos exercícios para ele treinar a finalização nos cruzamentos. Ele conseguia mobilizar ali quatro ou cinco colegas para ficarem depois do treino e procurava treinar o contacto dentro da grande área. Era fantástico.

Em termos de personalidade, notava-se que ainda era miúdo, ainda levou ali uma praxe do Moutinho no primeiro ano (risos). Mas era um miúdo que respirava futebol. Tinha uma capacidade técnica sensacional, associada a uma tomada de decisão que era fantástica para a idade dele. Sabia gerir os ritmos, tinha aquele perfume no jogo. O jogador que qualquer treinador quer ter. Ele é mesmo apaixonado por futebol. Ia para o treino sempre com alegria. Já sentia que ele tinha o potencial e foi sempre melhorando dia após dia, notava-se que iria evoluir, porque não é aquele jogador que se refugia no facto de saber que tem qualidade e por isso não se dedica. É totalmente o oposto. Mesmo sem bola, ele chegava a fazer 12 quilómtros em jogos de Champions League, não é qualquer médio que faz isso. É impressionante.

Trabalhar com o Leonardo era muito fácil. É uma pessoa que sabe delegar, sabe conversar com os jogadores diretamente. Era muito preocupado com o treino e com a antecipação dos problemas do dia a dia. Muitas vezes, antes do treino, já tinha ganho dia. Já tinha falado com um ou dois jogadores e já os tinha mentalizado da melhor forma antes dos treinos. Isto porque muitas vezes existem problemas de egos, problemas de agentes, problemas familiares e há que saber gerir isso. Ele fazia-o muito bem. Facilitava todo o nosso trabalho depois.

O Mbappé, sem dúvida. E eu digo isto sem hesitações porque o Mbappé foi aquele jogador que impressionou desde o primeiro dia. O Leonardo Jardim nem estava no primeiro treino do Mbappé com a equipa principal, estava na Argentina com o Luís Campos a ver jogadores, e ele impressionou toda a gente, todos os assistentes. Com 17 anos, no primeiro treino com os séniores, foi para cima de toda a gente a driblar sem medo e com sucesso. Não era driblar e perder a bola. Driblava e fazia golo a seguir. Tinha características muito boas e podia dar coisas diferentes à equipa. Naquela semana demos logo o toque ao treinador.

Nós, equipa técnica, alertámos naturalmente o Leonardo Jardim depois desse treino e a partir daí houve um acompanhamento. Não foi de um dia para o outro. Houve uma constante avaliação. Ele começou a destacar-se mais na equipa B e depois aos poucos começou a fazer uns minutos na equipa principal. Nos tempos seguintes até entrámos numa fase que era preocupante perder o Mbappé. Houve clubes que se começaram a aperceber e havia o risco de ele começar a falar com outras equipas. O agente era o pai e havia clubes a chegar com muito dinheiro na altura em que o Mónaco estava a tentar renovar com ele. Lembro-me bem do Leonardo dizer à direção que valia bem a pena investir no Mbappé porque ia-se recuperar tudo num par de anos. ‘Não se preocupem’, dizia ele. E estava certo.

O Martial, por outro lado, apesar da qualidade, até a forma de estar era diferente. O Martial era bom jogador e foi vendido como foi para o Manchester United (60 milhões de euros), mas às vezes parecia que estava desfocado da realidade. Parecia que tinha o seu próprio mundo e uma pessoa nem sabia se a informação falada nos treinos chegava até ele. Estava sempre muito desligado.

LEIA TAMBÉM:

Fonte: Mais Futebol

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!

Exit mobile version