InícioNacionalSociedadeMANHIÇA NA ROTA DA MORTE: ONDE A ESTRADA VIRA CEMITÉRIO

MANHIÇA NA ROTA DA MORTE: ONDE A ESTRADA VIRA CEMITÉRIO

Resumo

Os acidentes rodoviários na Manhiça, Moçambique, revelam um cenário desolador devido a estradas degradadas, comportamentos negligentes dos condutores e falta de resposta institucional eficaz. A condução agressiva, desrespeito pelos sinais de trânsito e obsessão pela velocidade contribuem para acidentes evitáveis, com a EN1 em estado deplorável. A formação deficiente dos condutores e corrupção na atribuição de cartas de condução agravam a situação, enquanto crenças culturais e espirituais não podem encobrir falhas estruturais. A solução requer educação rodoviária, investimento em infraestruturas, fiscalização rigorosa e consciencialização sobre o valor da vida, para evitar que a morte continue a ser uma rotina nas estradas moçambicanas. É urgente agir para salvar vidas e garantir um futuro mais seguro.

Por: Virgílio Timana

Os acidentes rodoviários em Moçambique continuam a ceifar vidas de forma brutal e recorrente, com o distrito da Manhiça, na província de Maputo, a destacar-se como um dos epicentros dessa calamidade. O cenário é desolador e, pior ainda, previsível. As causas são conhecidas, mas a resposta institucional permanece tímida, fragmentada e, em muitos casos, ausente.

As estradas degradadas, o estacionamento irresponsável de veículos de carga, como os transportadores de carvão e a fadiga extrema dos motoristas semicolectivos, que operam em jornadas desumanas, são apenas parte do problema. A raiz mais profunda está no comportamento negligente e perigoso dos automobilistas. A condução agressiva, o desrespeito pelos sinais de trânsito e a obsessão pela velocidade revelam uma cultura rodoviária marcada pela imprudência e pela indiferença à vida humana.

Na Manhiça, os condutores de “chapas” e camiões pesados transformam as estradas em zonas de risco permanente. A pressa sobrepõe-se à responsabilidade, e o resultado são vidas perdidas em acidentes evitáveis. A formação deficiente dos condutores, aliada à corrupção no processo de atribuição de cartas de condução, permite que indivíduos sem preparação adequada assumam o volante, colocando em risco todos os que circulam nas vias públicas.

A EN1, principal via que atravessa a região, encontra-se em estado deplorável. Buracos, ausência de sinalização e iluminação precária tornam cada viagem um acto de sobrevivência. Uma estrada nestas condições não tolera erros humanos — qualquer distração pode ser fatal.

Apesar das promessas governamentais de reabilitação, a realidade mostra uma manutenção irregular, obras mal executadas e materiais de baixa qualidade. O resultado é um ambiente rodoviário que não apenas facilita acidentes, mas os torna inevitáveis.

Há ainda um elemento frequentemente ignorado no debate público: as crenças culturais e espirituais. Trechos considerados “amaldiçoados” levam à prática de oferendas nas margens da estrada. Embora seja essencial respeitar a espiritualidade local, ela não pode servir de cortina para encobrir falhas estruturais e comportamentais. A fé deve caminhar lado a lado com a educação cívica e a adopção de práticas seguras.

A solução exige mais do que discursos: requer acção concreta. Educação rodoviária eficaz, investimento sério em infra-estruturas, fiscalização rigorosa e, sobretudo, uma consciência colectiva sobre o valor da vida. Ignorar este problema é, na prática, aceitar que a morte continue a fazer parte da rotina das nossas estradas.

Chegou o momento de romper com a indiferença. Cada vida perdida é uma tragédia que poderia ter sido evitada. E cada dia sem acção é uma oportunidade desperdiçada de salvar o futuro.

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