– Na visita oficial a Lisboa, Presidente Daniel Chapo apela a uma nova fase de relações equilibradas e anuncia cimeira bilateral para Dezembro
Questões-Chave
Durante a sua visita oficial a Lisboa, o Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo, defendeu o aprofundamento das relações com Portugal, com base numa nova fase de cooperação recíproca e equilibrada. Com destaque para a valorização da diáspora, do investimento cruzado e da avaliação efectiva dos acordos bilaterais, a visita marcou um ponto alto na consolidação de uma parceria histórica com ambições renovadas.
Na sua primeira visita oficial a Portugal como Chefe de Estado, Daniel Chapo foi recebido no Palácio de São Bento pelo Primeiro-Ministro português, Luís Montenegro. Ambos os líderes reafirmaram o carácter fraterno da relação bilateral e manifestaram a intenção de relançar a cooperação em áreas-chave como educação, justiça, saúde, segurança e desenvolvimento económico.
Num gesto de alinhamento político e diplomático, os dois países anunciaram a realização de uma cimeira bilateral nos dias 8 e 9 de Dezembro, em Lisboa, para “avaliar o nível de execução dos acordos existentes” e projectar novos marcos de colaboração. “Assinam-se acordos e às vezes pensa-se que já estão a ser implementados, e não estão”, alertou Chapo, defendendo mais eficácia e pragmatismo na cooperação.
Investimento cruzado e reciprocidade como novo paradigma
No encontro com a comunidade moçambicana residente em Portugal, o Presidente reiterou a importância de criar condições equitativas para que empresários portugueses invistam em Moçambique e, igualmente, para que empresários moçambicanos possam investir em Portugal. “Achamos que Portugal e Moçambique podem trabalhar juntos”, afirmou, sublinhando que a relação económica deve ser mutuamente vantajosa.
O Presidente foi enfático na necessidade de garantir tratamento justo e digno aos moçambicanos residentes em Portugal, comparável ao acolhimento oferecido aos portugueses em Moçambique. “Que haja reciprocidade na boa forma de tratar as pessoas”, disse, defendendo a simplificação dos processos de legalização de residência.
Segurança, paz e o papel de Portugal em Cabo Delgado
Na conferência de imprensa conjunta, o Primeiro-Ministro Luís Montenegro reiterou o apoio contínuo de Portugal à estabilização da província de Cabo Delgado, destacando a importância de combater o extremismo violento com base em mecanismos de segurança, cooperação institucional e acções de apoio humanitário. Esta componente da parceria bilateral tem sido particularmente valorizada por Moçambique, que encara a estabilidade como condição essencial para o desenvolvimento regional e para a consolidação da CPLP.
Cultura, identidade e a diáspora como embaixadores do país
A visita do Presidente incluiu também a participação na exposição Muungano – 50 anos de História, Arte e Cultura de Moçambique Independente, onde destacou o papel da cultura e da arte na promoção da identidade nacional além-fronteiras. “Moçambique continua vivo no coração dos seus filhos, mesmo distantes do país”, afirmou Chapo, dirigindo-se à diáspora como actores essenciais na projecção internacional do país.
O estadista recordou ainda os elos históricos entre a Revolução dos Cravos em Portugal e a independência de Moçambique: “Enquanto os portugueses comemoram o 25 de Abril, nós comemoramos o 25 de Junho. Todos lutávamos contra o mesmo inimigo — o regime colonial, e não os povos.”
A visita do Presidente Daniel Chapo a Lisboa reforça uma visão estratégica que coloca a reciprocidade, a co-responsabilidade e a avaliação permanente no centro das relações luso-moçambicanas. A cimeira de Dezembro deverá testar o grau de compromisso com esta nova abordagem, com foco no impacto económico, social e institucional das parcerias bilaterais.
Fonte: O Económico