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Trump Ameaça Taxas Adicionais de 10% a Países que Apoiem Políticas do BRICS

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O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, endureceu a sua retórica económica ao anunciar tarifas adicionais de 10% sobre países que se alinhem com as chamadas “políticas anti-americanas” do BRICS. A ameaça surge num momento de tensão crescente nas relações comerciais globais e reacende o debate sobre o futuro da ordem económica internacional.

A declaração de Trump, publicada na sua rede Truth Social, não especifica quais políticas seriam consideradas “anti-americanas”, mas surge em clara reacção à cimeira do BRICS em curso no Brasil. Os líderes do bloco — agora com 11 países — criticaram duramente as políticas tarifárias unilaterais dos EUA e apelaram à reforma de instituições multilaterais como o FMI e a OMC.

Na visão do Presidente norte-americano, o fortalecimento do BRICS, bem como os seus planos de criar um sistema de pagamentos transfronteiriços que contorne o dólar, representam uma ameaça directa à influência dos Estados Unidos. Trump reafirmou inclusive que poderá aplicar tarifas de 100% caso o grupo avance com mecanismos de desdolarização do comércio.

A decisão insere-se num ambiente em que o governo norte-americano se prepara para reactivar, a partir de 1 de Agosto, a aplicação de tarifas mais elevadas sobre uma série de parceiros comerciais, caso não sejam alcançados acordos bilaterais. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, confirmou o envio de cartas com tarifas específicas já a partir desta segunda-feira.

Prováveis Repercussões e Impactos Potenciais

O uso explícito de tarifas como ferramenta de punição política assinala uma nova fase de ruptura com o modelo de comércio multilateral regulado. Especialistas alertam que a actuação de Trump poderá acelerar a erosão das regras da OMC, levando ao surgimento de esferas económicas concorrentes — com os EUA de um lado, e o BRICS e seus aliados de outro.

“Trata-se de uma clara instrumentalização geopolítica das tarifas. O mundo está a caminhar para uma ordem económica marcada por blocos rivais, cada vez menos interdependentes”, alerta o Prof. Guillermo Fariñas, analista de relações económicas internacionais da Universidade de Lisboa.

Com África do Sul, Egipto e Etiópia entre os membros do BRICS, e com ligações comerciais relevantes com outros países do bloco como a China e a Índia, várias economias africanas poderão enfrentar consequências indirectas severas. O aumento de tarifas pode afectar exportações agrícolas e minerais, além de encarecer o acesso a bens intermediários e equipamentos importados dos EUA.

Além disso, a atitude de hostilidade comercial poderá desencorajar o investimento estrangeiro directo, especialmente em sectores como infra-estruturas, logística e energia, onde a triangulação entre empresas chinesas, financiamento dos EUA e mercados africanos é frequente.

A retórica agressiva de Trump já começa a reflectir-se nos mercados cambiais. O dólar norte-americano registou uma valorização súbita, ao passo que moedas de países emergentes como o real brasileiro e o rand sul-africano sofreram depreciações. A volatilidade tende a aumentar os custos de financiamento externo e pressionar reservas cambiais, num contexto de aperto financeiro global.

A ameaça de penalização comercial por abandono do dólar em transacções internacionais poderá ter o efeito contrário ao pretendido por Trump. Para muitos analistas, a postura coerciva poderá acelerar os esforços do BRICS e de outros actores globais no sentido de desenvolver moedas digitais soberanas, sistemas de compensação bilaterais e plataformas alternativas de financiamento e comércio.

Para países como Moçambique, Indonésia, Turquia ou Nigéria — que mantêm boas relações com Washington mas também participam de iniciativas Sul-Sul — a tensão crescente entre os EUA e o BRICS poderá restringir o espaço diplomático e estratégico. Projectos de cooperação com múltiplos parceiros poderão ser reavaliados ou despriorizados, consoante os riscos comerciais associados.

E Agora?

A ameaça de tarifas adicionais por parte do Presidente Trump insere-se num padrão mais amplo de redefinição da geopolítica económica global. Ao abandonar o princípio da previsibilidade nas relações comerciais e penalizar países com base em alinhamentos políticos, os Estados Unidos contribuem para o surgimento de uma nova arquitectura internacional — mais fragmentada, mais instável, e menos regulada.

Neste novo cenário, países em desenvolvimento enfrentam a difícil missão de navegar num mundo multipolar com riscos crescentes, onde decisões de curto prazo podem ter impactos profundos sobre a competitividade externa, a estabilidade macroeconómica e o espaço de manobra diplomático.

Fonte: O Económico

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