Por: Alfredo Júnior
As autoridades de Moçambique e da Tanzânia têm vindo a intensificar a sua cooperação no combate ao terrorismo e à criminalidade transnacional, numa altura em que se registam novos focos de violência armada no norte moçambicano. A província de Cabo Delgado continua a ser o epicentro de ataques que, desde 2017, já provocaram milhares de mortes e deslocamentos forçados, com impacto directo nas zonas fronteiriças entre os dois países.
Nos últimos meses, foram reportados ataques de grupos ligados ao Estado Islâmico em distritos como Macomia, Muidumbe e na província do Niassa, colocando novamente em alerta as autoridades da região. Perante este cenário, Moçambique e Tanzânia voltaram a reunir-se para alinhar estratégias conjuntas, reforçando o compromisso bilateral firmado há quase cinco anos.
Em Julho de 2025, decorreu a 6.ª sessão da Comissão Permanente Conjunta de Defesa e Segurança, onde os dois países acordaram novas medidas operacionais, com destaque para o reforço das patrulhas conjuntas na fronteira comum, particularmente ao longo do rio Rovuma. As delegações discutiram também a necessidade de actualizar a delimitação da linha média do rio, essencial para as acções de controlo e vigilância.
Segundo o Secretário Permanente do Ministério da Defesa de Moçambique, Casimiro Mueio, os encontros visam “operacionalizar todos os compromissos assumidos” desde 2023, garantindo uma actuação coordenada contra o terrorismo e outras formas de criminalidade organizada. A Tanzânia, por sua vez, reiterou o apoio contínuo às operações em território moçambicano, mesmo após o fim da missão da SADC (SAMIM), em 2024.
Além das operações no terreno, Moçambique e Tanzânia mantêm activa uma partilha de informações estratégicas e confidenciais, bem como acções de capacitação conjunta das forças de defesa e segurança. Em paralelo, continuam em vigor programas de desradicalização e sensibilização nas comunidades fronteiriças, com foco na prevenção da adesão de jovens aos grupos armados.
Um dos resultados visíveis desta cooperação foi a detenção, no início de 2025, de um suspeito afiliado ao grupo ISIS-Moçambique em território tanzaniano, numa operação regional conduzida com apoio da Interpol e Afripol. Este episódio mostra o alcance das acções conjuntas e a importância da vigilância partilhada na contenção de ameaças.
As autoridades admitem que os desafios persistem, mas consideram que o reforço da cooperação bilateral tem sido determinante para travar o avanço dos grupos extremistas, proteger as populações e restaurar a estabilidade nas regiões afectadas.
