Questões-Chave:
Num contexto de pressões fiscais e desafios estruturais à estabilidade macroeconómica, Moçambique registou uma ligeira deflação mensal em Junho de 2025. Apesar deste alívio pontual, os dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que a inflação acumulada e homóloga continua a crescer, com variações regionais significativas que revelam vulnerabilidades no abastecimento e nas dinâmicas de consumo no interior do país.
O Índice de Preços no Consumidor (IPC) de Moçambique, referente ao mês de Junho de 2025, revela que o País registou uma variação negativa de preços de -0,07%, sinalizando uma ligeira deflação a nível nacional. Os dados foram recolhidos nas cidades de Maputo, Beira, Nampula, Quelimane, Tete, Chimoio, Xai-Xai e na Província de Inhambane.
A divisão de Alimentação e Bebidas Não Alcoólicas foi a principal responsável por esta variação negativa, contribuindo com -0,12 pontos percentuais. Produtos essenciais como tomate (-7,0%), couve (-9,3%), feijão manteiga (-3,3%), gasóleo (-3,1%) e gasolina (-1,0%) destacaram-se com quedas relevantes nos preços.
No entanto, a deflação foi parcialmente compensada por aumentos em produtos como pão de trigo (2,8%), carapau (2,1%), galinha viva (1,5%), peixe seco (1,2%), veículos automóveis em segunda mão (3,4%) e lençóis e fronhas (4,9%), que contribuíram com +0,20pp para a variação mensal.
No acumulado do primeiro semestre, a inflação nacional situou-se em 1,20%, com destaque para os aumentos nos sectores de alimentação e bebidas não alcoólicas e restaurantes, hotéis e similares, que contribuíram com +0,43pp cada. O pão de trigo, arroz, refeições em restaurantes, sabão em barra, carapau e sumos naturais foram os principais responsáveis pela variação acumulada, com +0,98pp no total.
Já a inflação homóloga, ou seja, em comparação com Junho de 2024, foi de 4,15%, liderada pelas mesmas duas divisões — alimentação e restauração — com variações anuais de 9,38% e 8,53%, respectivamente.
Diferenciação Regional:
Uma leitura atenta da variação por centro de recolha revela desigualdades geográficas significativas:
A deflação de Junho não deve ser interpretada como sinal de alívio sustentado. Os dados acumulados e homólogos confirmam que a inflação continua a crescer em ritmo moderado, mas com acentuadas diferenças regionais. O interior do país, com menor conectividade logística e maior dependência de mercados locais, revela-se particularmente vulnerável a choques nos preços.
Combinado com o ambiente de risco fiscal elevado e a fraca recuperação económica fora do sector extractivo, o panorama inflacionário exige respostas mais estruturadas de política económica, com reforço da produção local, estabilização da cadeia de abastecimento e maior coordenação entre política monetária e política fiscal.
Fonte: O Económico