tarifas sobre importações de vários países, caso vença as eleições presidenciais de Novembro, está a desencadear uma vaga de preocupação internacional e a mobilizar governos, blocos económicos e parceiros comerciais a prepararem contramedidas e respostas diplomáticas.
As propostas de Trump incluem a aplicação de uma tarifa geral de 10% sobre todas as importações e um adicional de 60% sobre produtos chineses, com justificativos que vão desde o défice comercial até à “segurança económica”. A medida é vista por muitos analistas como um regresso a uma postura proteccionista agressiva, com potenciais efeitos em cadeia sobre a economia global.
Reacções internacionais em cadeia
A União Europeia já expressou publicamente a sua preocupação, alertando para possíveis violações das regras da OMC e ameaçando retaliar com tarifas sobre produtos icónicos dos EUA, como motociclos, jeans e bourbon, caso as medidas avancem.
A China, principal alvo das tarifas propostas, sinalizou a possibilidade de reacções proporcionais, incluindo restrições à importação de bens americanos de alto valor tecnológico e o eventual encerramento de canais de negociação bilateral. Pequim também poderá acelerar a sua estratégia de diversificação de mercados e acordos com blocos como a ASEAN, África e América Latina.
O Brasil e a Argentina, enquanto exportadores relevantes para os EUA, manifestaram preocupações quanto aos efeitos colaterais sobre produtos como o alumínio, a carne bovina e o milho. Ambos os países analisam medidas de compensação comercial junto da OMC.
O Japão e a Coreia do Sul adoptaram uma posição de vigilância diplomática, mas com avisos discretos de que a reintrodução de tarifas sobre produtos tecnológicos poderá afectar cadeias globais de produção.
Impactos esperados e equilíbrio geoeconómico
Especialistas consideram que a imposição destas tarifas teria efeitos imediatos sobre os custos de produção nos EUA, levando a aumentos de preços para o consumidor final, reacções inflacionárias e instabilidade nos mercados. Por outro lado, a guerra tarifária pode incentivar a reconfiguração de cadeias de abastecimento globais e acelerar acordos comerciais alternativos entre potências emergentes.
Nos bastidores, países africanos com acordos preferenciais com os EUA, como aqueles abrangidos pelo AGOA (African Growth and Opportunity Act), acompanham a evolução com cautela, temendo um retrocesso nos fluxos comerciais.
A medida, caso implementada, poderá marcar um novo capítulo de tensões comerciais multilaterais, com impactos significativos sobre o sistema de governança económica internacional.
Uma nova era de unilateralismo comercial?
O retorno de uma agenda unilateralista, centrada em tarifas generalizadas, reabre o debate sobre os limites do proteccionismo numa economia global interligada. Economistas alertam para o risco de um “efeito dominó” de medidas defensivas, que poderão desacelerar o comércio global, reduzir investimentos e comprometer os esforços de recuperação económica em vários continentes.
Os próximos meses serão decisivos. Além do desfecho das eleições nos EUA, o que estará em jogo é o equilíbrio entre soberania económica, competição global e cooperação multilateral.
Fonte: O Económico