Início Economia O Silêncio dos Bancos Centrais Também é Político

O Silêncio dos Bancos Centrais Também é Político

0

Alfredo Mondlane

<

p style=”text-align: right”>Economista | Head of Credit | Finance Specialist

Na senda da comemoração dos 50 anos do Banco de Moçambique, tive o privilégio de participar no simpósio internacional realizado ontem no Centro Cultural Moçambique-China, onde almocei e troquei ideias com Suas Excelências, os Governadores dos Bancos Centrais da Tanzânia, Malawi e Zâmbia. Não foi apenas um almoço de cortesia — foi uma conversa franca e intensa, que durou mais de uma hora e mergulhou em temas que muitos evitam, mas que hoje são incontornáveis no debate sobre o futuro da política monetária africana.

Falámos de tudo, sem filtros:

A independência dos Bancos Centrais – é real ou apenas formal? Até que ponto conseguem os Governadores resistir à pressão política num continente onde a separação entre política fiscal e monetária continua difusa?

Credibilidade – não se decreta, conquista-se. Mas como manter a credibilidade quando as decisões são interpretadas mais por conveniência eleitoral do que por racional económico?

Revisitar os mandatos – num contexto em que o crescimento económico, a inclusão financeira e a criação de emprego ganham urgência, fará sentido continuar a centrar o mandato apenas na estabilidade de preços?

Crowding-out e o dilema da dívida pública – o Estado continua a asfixiar o sector privado nos nossos mercados de capitais frágeis. Que espaço sobra para o crédito produtivo? Como podem os Bancos Centrais usar os seus instrumentos para inverter esta tendência?

As imposições do FMI – debatemos até que ponto as “receitas” do Fundo Monetário Internacional respondem, de facto, às patologias reais das economias africanas, ou se, pelo contrário, apenas tratam os sintomas com austeridade, comprimem a procura agregada e perpetuam a fragilidade estrutural. Será que ainda estamos a seguir um manual desenhado para outras realidades?

Este tipo de diálogo é raro, mas urgente. Acredito profundamente que África precisa de Bancos Centrais mais ousados, mais interventivos e menos tímidos perante as realidades do desenvolvimento. Porque, sejamos honestos: manter taxas altas com inflação baixa, ou travar reformas estruturais com o argumento da “prudência monetária”, não é neutralidade — é uma escolha com consequências económicas e sociais graves.

África não pode crescer com bancos centrais silenciosos. O silêncio, neste caso, também é ruído.

Fonte: O Económico

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!

Exit mobile version