A riqueza combinada dos multimilionários do mundo aumentou dois biliões de dólares em 2024, o que equivale a um incremento de 5,7 mil milhões de dólares por dia. Esta é a principal conclusão do relatório “A pilhagem continua”, divulgado pela Oxfam Intermón durante o Fórum Económico Mundial de Davos. O documento sublinha que o ritmo de acumulação de riqueza pelos mais ricos foi três vezes superior ao registado no ano anterior, evidenciando o agravamento da desigualdade global.
Segundo a Oxfam, havia em 2024 um total de 2769 multimilionários no mundo, face aos 2565 registados em 2023. Em apenas 12 meses, a riqueza combinada deste grupo aumentou 13 biliões de dólares, marcando o segundo maior crescimento registado desde que há dados. Este cenário contrasta dramaticamente com a realidade das populações mais pobres. O Banco Mundial estima que o número de pessoas que vivem com menos de 6,85 dólares por dia permaneceu inalterado desde os anos 1990, afectando cerca de 3,5 mil milhões de indivíduos.
Concentração de riqueza e as consequências da desigualdade
A Oxfam revelou que a riqueza conjunta dos dois homens mais ricos do mundo aumentou, em média, quase 100 milhões de dólares por dia. O relatório indica ainda que 61% desta riqueza é herdada ou associada a clientelismo e ao poder político, perpetuando desigualdades históricas.
Com base nos dados da Forbes e do banco UBS, a Oxfam refere que a maioria dos multimilionários actuais deixará um total de 5,2 biliões de dólares para os seus herdeiros, perpetuando a concentração de riqueza por gerações. Este fenómeno, segundo a organização, é reflexo de um “colonialismo moderno”, em que fluxos de capital são desviados do Sul global para o Norte, beneficiando sobretudo os países mais ricos.
O Impacto global e desafios emergentes
A desigualdade não é apenas uma questão económica, mas também social e política. A concentração de riqueza nas mãos de poucos não só agrava as disparidades dentro das sociedades como afecta a democracia e limita o desenvolvimento sustentável. A influência desproporcional dos ultra-ricos em sectores-chave, como tecnologia, saúde e finanças, levanta preocupações quanto à justiça e equidade no acesso a recursos.
Para além disso, a Oxfam alerta que os cinco maiores bilionários do mundo possuem riqueza suficiente para comprar todas as casas de Espanha, exemplificando a disparidade extrema entre os mais ricos e as populações mais vulneráveis. Esta acumulação de riqueza é ainda alimentada por um sistema económico que favorece isenções fiscais, práticas monopolistas e a manutenção de paraísos fiscais.
Propostas para mitigar a desigualdade
A Oxfam defende uma reforma fiscal global que inclua a tributação progressiva sobre grandes fortunas e heranças, bem como a eliminação de paraísos fiscais. Propõe ainda que os governos garantam que os rendimentos dos 10% mais ricos não excedam quatro vezes os dos 40% mais pobres. Estas medidas, segundo a organização, são cruciais para reduzir as desigualdades e promover uma distribuição mais equitativa da riqueza.
Perspectivas futuras e reflexões
A manter-se o ritmo actual, a Oxfam prevê que o mundo poderá testemunhar o surgimento dos primeiros trilionários já na próxima década. Este cenário acentuará ainda mais as desigualdades, consolidando a posição de uma elite económica enquanto grande parte da população mundial continua a lutar contra a pobreza extrema.
A divulgação deste relatório durante o Fórum de Davos reforça a necessidade urgente de o mundo enfrentar as disparidades económicas globais. Sem mudanças estruturais significativas, o sistema económico mundial continuará a beneficiar uma minoria privilegiada, em detrimento da maioria da população. Para a Oxfam e outros analistas, o momento exige vontade política, cooperação internacional e reformas audazes que permitam uma distribuição mais justa de riqueza e oportunidades, garantindo um futuro mais equitativo e sustentável.
Fonte: O Económico