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PERDAS ECONÓMICAS NA PRODUÇÃO LOCAL

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Marracuene Ainda Debulha Arroz à Mão

Por: Sara Seda

Em Marracuene, o arroz continua a ser debulhado manualmente ou com máquinas improvisadas que, mais do que ajudar, muitas vezes atrapalham. Num cenário que contrasta com o discurso de modernização e desenvolvimento agrícola, mulheres e homens passam horas a malhar arroz com paus, como se o tempo tivesse parado. O resultado? Arroz quebrado, perdas entre as cascas e uma produtividade que mal sustenta o consumo familiar, quanto mais o mercado.

Este quadro, além de retratar o abandono tecnológico nas zonas rurais, levanta uma questão séria sobre prioridades económicas. Como é possível que, num país com condições climáticas e terras férteis para a produção de arroz, ainda se continue a importar toneladas deste cereal todos os anos? O arroz que consumimos, em grande parte, vem de fora, empacotado, limpo, com grãos inteiros e pronto para ser vendido em supermercados. Enquanto isso, o arroz produzido localmente perde valor desde a lavoura até ao saco.

Não se trata apenas de romantizar a agricultura tradicional ou de denunciar a falta de máquinas. Trata-se de olhar para a realidade: está-se a desperdiçar uma oportunidade económica. Marracuene, com a sua proximidade a Maputo, poderia ser um centro produtivo estratégico, no entanto, sem equipamentos adequados para a debulha e descasque, os pequenos produtores são forçados a recorrer a processos ineficientes que tornam o arroz local pouco competitivo.

Há uma contradição, por um lado, o governo fala em industrialização, em empoderamento do sector agrícola e na redução da dependência das importações. Por outro lado, realidades como a de Marracuene mostram que falta uma política séria de mecanização agrícola, especialmente na pós-colheita. O que custa investir em máquinas acessíveis para cooperativas locais? O que custa formar jovens técnicos para operar e manter esse equipamento? Custa menos do que importar arroz todos os anos, isso é certo.

E não se trata apenas de economia, um agricultor que vê metade do seu arroz desperdiçado por falta de meios não pode competir, não pode crescer, não pode investir. Fica preso a um ciclo de produção de subsistência que perpetua a pobreza e desincentiva a juventude rural.

Se queremos um país menos dependente de produtos importados, precisamos começar por valorizar e equipar os nossos próprios produtores. Marracuene, como tantas outras regiões agrícolas de Moçambique, não precisa de esmolas. Precisa de máquinas, de formação técnica e de políticas que transformem o potencial agrícola em motor de desenvolvimento real.

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