Num gesto de apaziguamento, Venâncio Mondlane, ex-candidato presidencial, anunciou o fim imediato dos protestos e actos de violência que marcaram o período pós-eleitoral em Moçambique, após entendimentos alcançados com o Presidente da República, Daniel Chapo.
A crise social e política que eclodiu em Moçambique após as eleições gerais de 9 de Outubro conheceu um ponto de viragem. Venâncio Mondlane, figura central da contestação popular e ex-candidato à Presidência, anunciou esta segunda-feira o cessar de toda e qualquer acção violenta, tanto por parte dos manifestantes como das forças de segurança, com efeitos imediatos.
A decisão surge na sequência de uma reunião inédita e decisiva com o Presidente Daniel Chapo, também líder da Frelimo, ocorrida no domingo em Maputo. A Presidência da República comunicou que o encontro visou “promover a estabilidade nacional e reforçar o compromisso com a reconciliação e a unidade dos moçambicanos”.
Numa transmissão em directo nas redes sociais, Mondlane sublinhou os principais consensos alcançados: o fim da violência policial e civil, o compromisso de garantir assistência médica gratuita a todos os feridos — incluindo agentes da polícia e membros da Frelimo — e a necessidade de compensações sociais e psicológicas às famílias das vítimas mortais dos protestos.
“Há um compromisso assumido para não se assassinar moçambicanos. Sejam moçambicanos da trincheira A ou da trincheira B, assumimos o compromisso de acabar com a violência. Hoje a violência cessa entre ambas as partes”, declarou Mondlane.
Outro ponto de entendimento refere-se à libertação dos detidos no contexto das manifestações, através da concessão de indultos. Equipas técnicas já estão a ser organizadas para redigir o documento que formalizará os consensos alcançados entre as partes.
Desde Outubro, Moçambique foi palco de uma onda de manifestações e paralisações lideradas por Mondlane, que recusa reconhecer os resultados eleitorais que consagraram Daniel Chapo como vencedor. Os protestos, motivados também por insatisfação social face ao aumento do custo de vida, resultaram em, pelo menos, 361 mortos — entre os quais cerca de 20 menores — segundo a Plataforma Decide. O Governo, por seu lado, confirmou 80 óbitos e a destruição de mais de 1.600 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias.
Este novo entendimento poderá representar um marco na pacificação do país, depois de meses de tensão, perdas humanas e destruição de infra-estruturas. Resta agora acompanhar o processo de implementação dos compromissos assumidos e o eventual impacto na coesão social e política de Moçambique.
Fonte: O Económico