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Monday, December 15, 2025
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“Jornalismo não é crime”

Por: Gentil Abel

Num Estado democrático, o jornalismo não pode ser tratado como inimigo. Calar jornalistas é calar a sociedade, é calar, também, uma mãe ou um pai de família. E criminalizar a busca pela verdade é abrir espaço para a mentira, a corrupção e a impunidade.

O jornalista não inventa problemas, revela-os. Não cria desigualdade, denuncia-as. Não é responsável pela violência, pela corrupção ou pela má governação, apenas traz à luz aquilo que muitos prefeririam manter nas sombras.

Infelizmente, em muitos contextos, inclusive no nosso, o jornalismo tem sido confundido com afronta. Ao invés de ser visto como aliado do desenvolvimento e da cidadania, é tratado como ameaça.

No entanto, realidade mostra que o risco não é apenas de perseguição, intimidação ou censura. Em várias partes do mundo, e também em Moçambique, jornalistas perderam a vida por exercerem a sua profissão. Casos como o do jornalista Carlos Cardoso, brutalmente assassinado em 2000 por investigar esquemas de corrupção, continuam a simbolizar o preço extremo que pode ser pago pela verdade. Essas histórias lembram-nos que a liberdade de imprensa não é apenas um ideal: é uma conquista frágil, constantemente ameaçada.

Sendo assim, é urgente que a sociedade, as instituições e cada cidadão reconheçam o valor do jornalismo. Defender a imprensa não é defender jornalistas em particular, mas defender o direito de todos a estarem informados, a questionarem, a participarem de forma consciente nas decisões coletivas.

A recente denúncia da jornalista Selma Inocência Marivate, que revelou ter sido vítima de envenenamento com metais pesados durante a sua última visita a Moçambique, em março de 2025, é um alerta grave. Selma, atualmente a viver na Alemanha, afirmou que foi deliberadamente exposta a substâncias tóxicas que quase lhe custaram a vida.

Mais do que um ataque pessoal, este episódio representa um ataque simbólico à liberdade de imprensa e mostra os riscos que ainda persistem para quem ousa investigar e questionar. Selma recordou no seu depoimento: “Jornalismo não é crime. Eu não vou parar de falar.”

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