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A fraqueza do dólar voltou a acentuar-se esta terça-feira, atingindo o valor mais baixo contra o euro em quase quatro anos, à medida que crescem as preocupações com a trajectória fiscal dos Estados Unidos e os investidores antecipam novos cortes nas taxas de juro pela Reserva Federal.
O dólar norte-americano perdeu força de forma generalizada, com o índice DXY a cair para 96,688, o valor mais baixo desde Fevereiro de 2022. A moeda única europeia valorizou-se para 1,179 dólares, impulsionada por um ganho acumulado de 13,8% no primeiro semestre — o melhor desempenho desde que há registo, segundo dados da LSEG.
A fraqueza cambial reflecte preocupações orçamentais crescentes nos EUA. O pacote fiscal do Presidente Donald Trump, que deverá adicionar 3,3 biliões de dólares à dívida nacional, enfrenta resistência interna no Senado, ao mesmo tempo que as tensões comerciais e as tarifas prometidas até 9 de Julho alimentam incertezas no comércio externo.
“A narrativa de excepção dos EUA está a ser posta em causa. A procura nos leilões de dívida tem sido fraca, e o apetite dos investidores estrangeiros reduziu-se”, observou Nathan Hamilton, analista da Aberdeen Investments.
Pressão sobre a Fed e a erosão da credibilidade
Trump intensificou os ataques à Reserva Federal, instando Jerome Powell a alinhar a taxa de juro com as de Japão (0,5%) e Dinamarca (1,75%), remetendo-lhe uma lista manuscrita com comparações internacionais. Apesar de não poder demitir Powell por divergências políticas, o Presidente norte-americano sugeriu a sua saída.
Estas investidas minaram a confiança dos mercados na independência da Fed. “Existem motivos estruturais para não gostar do dólar neste momento”, defendeu Moh Siong Sim, estratega do Bank of Singapore, citando políticas comerciais erráticas e riscos fiscais persistentes.
Com os mercados a descontarem 67 pontos base de cortes na taxa dos Fed Funds em 2025, os investidores estão atentos à intervenção de Powell na reunião do BCE em Sintra, Portugal.
Outras moedas beneficiam-se
Emprego e comércio em foco
O mercado aguarda com expectativa o relatório de payrolls não-agrícolas desta quinta-feira, com previsões de apenas 110.000 novos empregos em Junho, face aos 139.000 em Maio. A taxa de desemprego deverá subir para 4,3%.
Ao mesmo tempo, os praços para novos acordos comerciais continuam escassos, e o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, avisou que tarifas mais elevadas poderão ser aplicadas unilateralmente, mesmo após negociações de boa-fé com parceiros como o Japão.
Fonte: O Económico