Joaquim Evangelista foi o mais recente convidado do podcast Final Cut. Entre vários temas, o presidente do Sindicato dos Jogadores abordou um bastante sensível, o tráfico humano e o auxilio à imigração ilegal que tem minado o futebol português.
«É uma realidade que o Sindicato tem denunciado. É real, diário, afeta a vida de milhares de jovens e torna as suas vidas num problema. Muitas vezes, isto é feito com pessoas do futebol que compactuam. Os chamados clubes “barrigas de aluguer” recebem estes jovens, que são enganados, e simulam condições para a sua contratação. Mas depois acabam por abandoná-los. Temos jovens completamente deixados à sua sorte no nosso país e este também é um problema do Estado», começou por dizer Joaquim Evangelista.
«Até agora a única entidade que tem respondido é o Sindicato. Temos consciência cívica e humana, além de garantirmos condições alimentares e pensões, chegámos a pagar as viagens de regresso dos jovens ao país em segurança», acrescentou.
Na sequência, o dirigente de 57 anos destacou que este assunto não pode ser resolvido apenas pelo Sindicato dos Jogadores, mas é necessária a ajuda do Governo português.
«Fizemos um grito de alerta ao Governo, não podemos resolver este problema sozinhos. Houve um conjunto de medidas que visam finalizar este problema e atacá-lo de forma conjunta», partilhou.
No entanto, segundo o mesmo, o tráfico de jogadores já é um problema que está enraizado na cultura desportiva portuguesa, muitas vezes em clubes afastados das grandes cidades.
«É um problema na cultura desportiva instalada na urgência de ganhar dinheiro. Para ganhar dinheiro vale tudo? Não pode valer tudo, muito menos com jovens a ser usados como instrumento para chegar rapidamente ao sucesso. Temos de proteger os jovens, o talento e o futuro. Isto não está a acontecer e estes problemas estruturais muitas vezes ocorrem em zonas mais remotas», afirmou.
«Temos SAD’s que se criam na base da pirâmide do futebol. Isso é inaceitável e ajuda nestes fenómenos, que também estão ligados ao match FI. A tolerância tem de ser zero relativamente a estes casos. Tráfico, viciação de resultados e doping não combinam com desporto», avisou.
Por fim, Joaquim Evangelista revelou que é algo que «está a crescer» em Portugal e ele mesmo já foi ameaçado na tentativa de acabar com o problema.
«Se não fosse ameaçado não era líder sindical. Felizmente não tenho medo. Não sou irresponsável, mas tenho a coragem necessária para combater estes fenómenos. Sou demasiado destemido? É verdade».
«Tenho um grande amigo que conheci na faculdade, o Doutor Luís Neves, diretor da Polícia Judiciária. Só uma ou duas vezes é que lhe liguei em situações mais difíceis. Tinha a ver com clubes profissionais e sobretudo com os adeptos», concluiu.
Fonte: Mais Futebol